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sábado, 18 de dezembro de 2010

Procura


Atravessei mares
Mil oceanos
Para te encontrar



Cortei os ares
Durante anos
Por te amar

Deixei lares
Cotidianos
Sem me fixar



Procurei pares
Corpos mundanos
Só para gozar

Bebi em bares
Com vários manos
Para disfarçar

Explorei lugares
Entrei pelo cano
Não consigo te deixar

sábado, 11 de dezembro de 2010

A Chave de Paradoxos Convexos

Para Maysa Brandão

Sou um ser complexo,
Incompleto e de paradoxos convexos,
Repleto de dúvidas e carências insaciadas,
Necessidades incompreendidas e despedaçadas.

A chave para entrar através das portas
Do meu corpo e minha alma morta
Foi jogada no fundo do mar,
Coberta por águas e areia, onde ninguém irá achar.

Jamais terei um amor correspondido,
Fato indiscutível e antigo.
Amar alguém como eu, cheia de problemas?!
Prefiro minha solidão e dilemas...

Que tragédia, que desespero é ter um estranho
Entranhado na mente e no crânio,
Ao mesmo tempo tão próximo,
Entorpecido, preso em algum lugar exótico.

Não posso aguentar tão negra história,
Não posso revelar meu passado sem glória...
Tamanho fardo sobre minhas costas
Apenas esconde minha identidade torta.

Mas a miséria terá um fim:
Um dia alguém chegará até mim
Pois a chave irá achar
Lá no fundo do mar.

Graças a minha oferenda
De gritos, ofensas,
Lágrimas noturnas, sangues alheios
Aos céus e por outros meios,

Por milhões de anos,
Minha carne já cheia de danos,
Por vermes havia sido comida
(E também por outros parasitas)

Quando meu corpo putrefado
Na torre de um castelo foi aprisionado,
Aquela criatura apareceu.
Deparou-se comigo. E morreu.

Mas para não dizer que só tive quedas,
Que meu caminho foi só de pedras,
Posso afirmar que depois de tudo
O ser se deitou comigo em meu túmulo...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Rotina de Insistência


Lavo a louça
Tomo banho
Abro a geladeira

Penso na moça
Vejo se a ganho
Fecho a torneira

Vou para a internet
Posto coisas banais
Me distraio

Tenho dezessete
Ligo a TV, mudo canais
Olho de soslaio

Durmo sozinha
Me sinto triste
No fim do dia.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Promessa é Dívida


Não te prometo joias
Não te prometo flores
Não te prometo mimos
Não te prometo roupas
Não te prometo status

Só te prometo versos
Só te prometo amor
Só te prometo atenção
Só te prometo fidelidade
Só te prometo...



Aquilo que posso dar.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Homem de Fases


Vai, bebê
Empina a chupeta
Deixa a inocência falar

Vai, menino
Empina a pipa
Deixa a diversão te dominar

Vai, homem
Empina o nariz
Deixa a inveja mandar

Vai, velho
Empina a bengala
Deixa a morte te levar

domingo, 21 de novembro de 2010

sábado, 20 de novembro de 2010

Sofrimento Antecipado


Não me diga
Oi
Fico triste!
Pois sei que
Depois de um
Oi
Sempre vem um
Tchau
Já sinto saudades
Fico triste!

domingo, 24 de outubro de 2010

Regurgitar


Com toda a minha frieza
Não consigo expressar
Com a devida firmeza
Que acabei de me apaixonar

Não consigo demonstrar
Sou nova nesse ramo
Resta-me, então, regurgitar
Com esforço: eu te amo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Inveja


Deslizando suavemente pelo teu corpo
Chegando à parte mais íntima
Como pode este objeto morto
Tocar tua pele límpida?

Ai, que inveja que sinto
Desse utensílio de limpeza
Pois se eu fosse ele, não minto
Esfregar-me-ia com muita firmeza

Espumando entre teus seios
Provando teu doce leite
Juro que tentaria todos os meios
Para ser teu eterno sabonete!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mistério


Pegadas na areia
Saudades intensas
Um lenço, uma meia
Pistas sangrentas

Um aroma, uma dica
Para eu correr atrás
Tua memória fica
Sofrimento demais

Desvendarei o mistério
Vestígios que deixastes
Pois meu único império
É o calor de tuas partes

Investigo os indícios
Descubro segredos
Esse será o início
De todos os meus medos

Quero ser a primeira
A te ver voltar
Tua partida é passageira
Não tardas a chegar

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Flores



Nunca recebi flores
Nenhuma murcha sequer
Mas isso não inflama minhas dores
Apenas mostra o óbvio: ninguém me quer

Mas agora que te conheço
A esperança brota em meu coração
Quando estou contigo, de tudo esqueço
E já não sei mais o que é essa tal solidão

Descobri que flores são só um símbolo
Para demontrar a importância de um certo alguém
Só que não preciso mais disso, pois me encontro no limbo
Então não preciso de flores para ter certeza de que me queres bem!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Amiga Medusa



Se quero saber algo da morte,
Simplesmente chego e pergunto:
"Como será que é ser defunto?"
E ela só me diz que "é muita sorte".

Às vezes preciso ser tão forte...
Tornados me arrastam para ir junto,
Então, com o caos, faço conjunto...
Minhas veias ofereço ao corte!

Sempre sozinha, má e confusa,
Comigo está a foice brilhante;
Uma lâmina não obtusa,

Quando estamos a sós, pede escusa.
Eis minha amiga congelante
Assim como o olhar de Medusa!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Mensagem Efêmera

 
Veja como a vida escoa
Veja como a vida passa
Veja como cai a garoa
Veja como perde a graça

Veja como tudo é rápido
Veja como uma mensagem
Veja como humor flácido
Veja como maquiagem

Veja como é passageira
Veja como é poesia
Veja como missioneira
Veja como uma epifania

Veja como saudade
Veja como fosse outrora
Veja como efemeridade
Veja como tem mais lá fora

Veja como acaba aqui
Veja como tem mais além
Veja como eu já sofri
Veja como já fui alguém

Veja como um momento
Veja como é instantâneo
Veja como brinca o tempo
Veja como é espontâneo

Veja como é relativo
Veja como é veloz
Veja como é ativo
Veja como é atroz

Veja como é fugaz
Veja como é demais
Veja como é sagaz
Veja como quero mais

Veja como déjavù
Veja como lembrança
Veja como já vivi
Veja como esperança

Veja como um adeus
Veja como um olá
Veja como age Deus
Veja como vou-me já

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sem Rótulos



Vou te amar, sendo homem ou mulher.
Sem rótulos: isso não tem nexo;
Não me interessa o teu sexo,
O que me importa é teu caráter.

Se tal fato, para ti, é convexo,
Lamento, pois quem me encanta é o ser
Que seja capaz de me entender
E que também seja eclético.

Eu me apaixono por pessoas,
Prenda-me com tua humanidade,
Que irei te encher de coroas.

Não irei perder a mocidade,
Vou aproveitar-te, senão, escoas.
Um grande viva à liberdade!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Relatividade


 Rápido
O tempo passa
Quando não se quer
Ficar
Sozinho

Lento
O tempo passa
Quando se quer
Ficar
Com quem se ama

sábado, 21 de agosto de 2010

À Deriva


Trovando-te, fiz uma cantiga,
Mas provei só teu amor azedo.
Portanto, desisti logo cedo,
E o que restou foi mágoa antiga.

Sem saber, apontaram-me o dedo:
Sou culpada por ter uma diva
Cuja alma ficou à deriva,
E o que restou foi apenas medo.

E por causa desse medo doentio,
O amor tornou-se obstáculo,
Pois deixa teu pedestal por um fio.

Não queres ver o espetáculo
Da queda estupenda do teu brio?
Entrega-te a mim: sou teu oráculo!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Quietude


Na quietude da noite ela partia;
Dama alva, coração em chama.
Alma só, algum amor reclama,
Vagando na madrugada fria...

Penso nela revirando a cama,
Esperando o surgimento do dia,
E naqueles olhos negros eu lia
A tórrida paixão de quem ama.

Mal sabes o quanto eu te quero,
Abandones essa tua solidão!
Venha pra mim, que sempre te espero,

Entregue-me teu corpo, dê-me a mão,
Senão sofro e me dilacero
Duvidando se és real ou não...

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Conclusões


 Maria Bethânia já cantava:
"Todo grande amor só é bem grande se for triste".
Maria Bethânia já cantava:
"Todos os caminhos me encaminham pra você".

Maria Bethânia já cantava:
"Não há você sem mim, e eu não existo sem você".
Sim, Maria Bethânia já cantava.
Mas eu não canto nada.

Só chego a conclusões:
Meus amores foram todos grandes;
Tentei todos os caminhos;
E...


Eu não existo.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Outroras


 Sinto saudades
De outrora
E outrora
Sentirei saudades
De agora
Que, por fim, se tornou
Outrora

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Relicário


Vejo-te passar preso à corrente,
Mortal e humano sem liberdade.
Tentando encontrar tua identidade,
Devias saber que ela é inerente!

Muitas vezes escondes a verdade,
Sem coesão e incoerente,
Da imitação viraste crente,
Sem lembrar tua personalidade.

Martírio que leva à alienação,
Descubra-te, saia do armário!
Olha através do teu coração,

Caíste no conto do vigário...
Agora que sabes, já posso, então,
Dizer que és único, um relicário!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ode à Capitu


A Machado de Assis


Pobre homem de mente poluída!
A duras penas, o ciúme te fez
Um ébrio, louco, infeliz de vez,
Tendo a sanidade diluída...

Tua diva, musa destruída,
Já foi embora há mais de um mês.
Por mais que entendas todas as leis,
A intriga fez tua alma corroída...

Sinto pena de ti, Dom Casmurro.
Nada fez tua esposa Capitu,
Mas tua cegueira, tal qual um urro,

Transformou-te em um vilão burro.
Tirando as suspeitas do baú,
Fazes com que mereças um bom murro!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

LITERALEITURA ®


FÓRMULA: cada comprimido de LITERALEITURA ® de 100 mg contém:

Criatividade ______________________________________ 50 mg
Métrica e Rima ____________________________________10 mg
Inspiração _______________________________________ 40 mg


Informações ao paciente:

POSOLOGIA: LITERALEITURA ® pode ser tomado a qualquer hora e em qualquer qualquer lugar. Não há contra indicações. A superdosagem também não é prejudicial à saúde.

INDICAÇÕES: LITERALEITURA ® é indicado para o tratamento da coisificação do homem e insensibilidade com os absurdos do cotidiano. Se os sintomas persistirem, seu amor ao próximo e seu resquício de humanidade já estão comprometidos e o médico deverá ser consultado.

ESTE MEDICAMENTO DEVE SER MANTIDO AO ALCANCE DE CRIANÇAS

VENDA SEM PRESCRIÇÃO MÉDICA

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Monstro


Sinto-me como um monstro terrível:
Magoo as pessoas que amo e admiro.
Em meu cérebro darei um tiro
Pra me livrar dessa culpa horrível!

Vejo que sou podre e indefinível,
Os outros sofrem quando respiro.
Com minhas palavras, a todos firo.
Julgam-me fria e insensível.

Meu coração, lápide de pedra,
Eternamente incompreendido,
Se esvai em dolorida queda...

Não magoarei mais quem é querido,
Maldição de sina, pior que a lepra!
Cansei de arrependimento antigo...

sábado, 10 de julho de 2010

Palavras



Quem perde não se torna perdedor.
Adjetivas ou substantivas,
Palavras são como nós, são vivas,
Devendo ser usadas com amor.

Quem vence não se torna vencedor.
Palavras são também emotivas,
Assim, não podem ser resumidas,
Pois usam-nas, quiçá, quem tem rancor.

Palavras têm uma vida própria
Apenas são o que são, por si só.
Narram tragédia, contam história...

Entrelaçam-se por teia e nó,
Ficam sempre gravadas na memória,
E, diferentes de nós, não viram pó...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Intuito

Meus olhos, talvez, já viram muito.
Mas ainda não viram teu amor
Ser demonstrado com tanto ardor
Como é mostrado em meu intuito.

Meus olhos só viram teu rancor.
Quisera fosse ele fortuito,
Como é mostrado em meu intuito!
Ele prova, apenas, nossa dor...

E nessa nossa dor indizível,
O que resta é velha frustração,
Que mesmo que seja exprimível,

Não passa de uma abstração.
Essa nossa solidão audível,
No fim, está em outra dimensão.

Pressa Corrosiva


Forcei a fluição da ideia,
Forcei a fluência da palavra.
Por que você ainda não estava
Ao lado desta mera plebeia?

Forcei a fala de quem amava,
Forcei a fama de minha estreia
Por que me mostrei à assembleia
Ao lado de quem mais brilhava?

Roo unhas, a insônia me assola.
Ansiedade vil que me destrói,
Só porque não espero minha hora...

Mas será que a paciência constrói?!
Não vejo porquê não ir embora,
Pois essa pressa ainda corrói!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Medo

Tenho um medo amedrontador,
Pavoroso e até demente,
Irracional e inconsciente
De não ser correspondida no amor.

Vejo-me com espasmos de terror,
Ao extremo de ficar doente.
Não posso permanecer na frente
De quem me causa tamanho tremor.

Sou covarde para dizer que gosto,
Pois a rejeição é mais que fatal.
Então, permaneço em silêncio.

Pensar na distância é já desgosto...
O que sinto está além do carnal.
O teu "sim" será meu melhor prêmio!

Garganta

Cansada está minha garganta,
De tanto sofrer, gritar à toa;
Enquanto meu espírito voa
Guiado pela desesperança...

Assim a imaginação avança
Oscilando entre a popa e proa;
Lágrimas? O oceano escoa,
Atingido pelo arpão e a lança.

Nesse mar de pura desilusão,
Nunca me encantaram as ninfas,
Sereias que ficam esquecidas.

Segue, meu desgarrado coração!
Admira as paisagens lindas,
Dessa forma deve ser tua lida...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Escrava

Tive medo de ser rejeitada.
Assim, calei-me e segui viagem.
Desperdicei a antiga paisagem
Da tua beleza aprimorada.

Estupidamente enamorada
Fiz aquilo que nem escravos fazem:
Da tua atenção fiquei à margem.
Teu sorriso era minha morada.

A distância fez voltar a razão,
Mas retornas para perto de mim.
Tanto tempo, e ainda te quero?!

A lucidez retornou, mas em vão:
O remoto amor não chegou ao fim:
Sempre te quis e agora te espero!

O Tempo


Por vezes é um ancião paciente;
As horas fluem e se escorrem
Sem percebermos qualquer desordem:
Senhor da vida, onipotente!

Ao me encontrar assim, carente,
Tremo e os ponteiros explodem;
Aí o tal velho me dá sua ordem:
Obedeço eu, eficiente!

Rodeia inúmeras ampulhetas,
Amplia os horizontes da ciência,
Prevê avanços da tecnologia.

Intrínseco, do destino é muleta.
Deus supremo da experiência,
Ou nos destrói ou imortaliza!

Soneto


Queria escrever um soneto
Dando-lhe merecido respeito,
Para causar o devido efeito;
São dois quartetos e dois tercetos.

Essa rima pobre aqui do gueto
Provém de uma doente no leito.
À míngua, fortes dores no peito,
Ainda quero fazer meu soneto!

Com estrutura simples e pura,
Que conquistou minha adolescência,
Do risco de morte já me cura.

Não importa se julgam loucura,
Felicita-me sua essência;
Escrevê-lo enche-me de ternura!

terça-feira, 8 de junho de 2010

Crime e Castigo


Meu crime foi me encantar contigo
E nas madrugadas ter insônia
Pensando na tua face risonha...
A indiferença foi meu castigo.

Passa o tempo, meu inimigo,
Controlando a ampulheta medonha,
Lembrando-me quem comigo não sonha.
Eis meu sofrimento mais antigo.

Ainda que me falte coragem,
Irei seguir a vida, em frente!
Suportarei a etérea e vil dor,

Sacrifício que muitos não fazem:
Indolência intrínseca e inerente,
Prazer maldito de sofrer por amor!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Aspirante

Minha vida é entediante
Sinto saudade de não sei o quê.
Por vezes me pergunto se é de você
Nessa existência ambulante...


Confesso que quando estou perante
Respostas que não tiveram porquê
Vejo a única saída a ter:
Ser, da morte, mera aspirante!


De quê adianta olhar para trás
E se prender em falsas vitórias?
Se no fundo tudo é sempre igual?


As escolhas que a humanidade faz
São egoístas, são só escórias.
E no fim, sou uma simples mortal...

Severa Seleção


Procurando meu belo sepulcro,
Por entre as lápides a andar
Ouvia sussurros, vozes no ar
Naquele cemitério escuro...

Se tantos murmúrios escuto
Crendo que tenho respostar a dar,
Peço apenas que ouçam meu cantar;
Suave melodia de luto...

Esses fantasmas que me acolhem
Para terem alguma companhia,
Não são todos que eles escolhem!

Apontam aos que plantam e colhem
A raiz daninha: esquizofrenia...
E o restante das almas, engolem!

Quimera

Minha felicidade já era.
Não sei se acabou, fluiu, partiu.
Sequer sei se ela já existiu
Ou se não passou de uma quimera.

Findou-se a bela primavera,
Apenas o inverno evoluiu
E as outras estações excluiu
Juntamente com a presente era.

Oh! Efemeridade terrestre
Que nos leva até o sepulcro...
Somos só adubo de cipreste!

O Criador em todos investe
E ainda por cima sai no lucro:
A sete palmos, vida inerte!

Ode à Ismália


A Alphonsus de Guimaraens

Se Ismália pode enlouquecer
Também tenho o direito de pirar
Em todas as torres me aprisionar
E assim, por causa de amor, morrer!

Quando então, vier o anoitecer,
Na lua do mar quero afundar,
À lua do céu quero me elevar
Para ver se lá feliz posso ser.

Se por muitas vezes devaneio
É porque me inspira Ismália...
Para quê imprimir falso freio?

Um destino melhor? Pois eu creio
Mesmo com infinita represália!
Para que viver nesse podre meio?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Berço


Quando me apontam como funesta
Vejo minha insignificância;
Também percebo a ignorância
De quem não me considera honesta.

Se da morbidez sou assim -mestra-,
Eu não noto tanta relevância
De ter nas trevas última estância
Para refúgio, teto e festa!

Eu olho para a escuridão,
Não existe local mais lúgubre;
O égide do meu vil coração,

Já deixou de ser a longa oração...
É tão somente a marcha fúnebre,
A embalar meu berço: o caixão!

Sustento

Passei horas com a caneta na mão
Querendo encarnar meu eu-lírico,
Mas não vem meu olhar onírico
Tampouco a preciosa inspiração...

Para aquecer todo coração
Deve-se possuir senso crítico...
Entretanto, as frases do tísico
Emocionam toda geração!

Percebam então meu sustento
Que garante o pão de cada manhã;
Se não tenho dom e nenhum talento,

Deixo isso a seu julgamento...
Não se sabe o dia de amanhã
Nem quão grande será o tormento!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ela

Ela é a minha inspiração...
A mais perfeita das criaturas!
O seu olhar, cheio de candura
Encheu de alegria o meu coração.

Ela é esta, essa e aquela...
A razão da minha existência.
Por esse amor, peço clemência
E almejo sua carne bela!

Quando a vi e também conheci
Todo o meu ser, em êxtase entrou!
Ah minha musa, tanto eu te quis...

Tanto eu te quero! Você me quer?
O seu corpo o meu corpo desejou...
Diva, faça de mim o que quiser.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Cárcere


Em um cárcere aprisionada,
Fruto de uma filarmônica fantasia
Na harmonia orquestrada
O som agudo de uma ópera vazia.

Stradivarius desafinado
Com longas cordas desentoadas,
Lânguido olhar deslocado
Ao longo da paisagem apagada...

Tristeza desmotivada,
Através dos tempos esquecida,
Mas ao fim de tudo ressucitada
Percebendo-se a vida;

Assim fico entorpecida
Dentro do ventre, pecado capital,
Cicatrizando minha ferida
A aguardar uma aparição triunfal.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Madrugada

Doce olhar prateado,
Pela lua e estrelas iluminado...
Voz ecoando no frio deserto,
Mãos abanando em um desespero certo.

Lânguidas pálpebras a se cerrar.
Jamais veremos novamente esse olhar...
Lágrimas e mentiras roucas,
Que cada vez mais a hipocrisia rouba.

Brilhantes, longos e negros,
Assim eram teus longos cabelos...
Porém tua doença não cura,
E então se putrefou tua carne pura.

Mas por ti eu chorei,
E em todas as madrugadas velei.
Por ti, rosas eu ofereci,
E finalmente, junto de ti eu parti...

Sacrifício

Pobre capela vazia e abandonada,
Sacrifício ecoando na neve.

Fé descrita na mente insana
Da inocência indolente.

Indulgência angelical
Das virgens da natureza...
Triste fim dos mortais,
Ira nas pirâmides da avareza.

O ébrio e o sóbrio na lucidez,
Feridas e cicatrizes sangrando,
Açoites do presbítero
Abençoando a dama de vestido.

O aviso da união maldita
De laços que jamais se romperão.
O sofrimento de quem ama
A infeliz que se casa nessa manhã.

Um estranho na noite esquecida

Minha memória dissipada
Já não sabe mais quem sou,
Em que avenida do subterrâneo
Minha alma desencontrada
Não se achou.

O grande sol central
Concentrado através dos meus olhos,
Dentro de minha essência,
Parou de brilhar, ilumina mal,
Enquanto sua luz explode meus poros.

Nunca fui nem nunca serei
A pessoa de índole louvável
Que todos esperam encontrar.
Quantas lágrimas chorei
Por afundar num sangue palpável?!

Meu desejo de dizer adeus novamente
E afundar na chamada pelo nome
Do estranho daquela noite esquecida
Será um carma eternamente
Dentro das minhas dúvidas arrebatadoras.

Não queria chorar, derramar lágrimas,
A história de meus pesadelos não vou contar,
Quero me abrigar em meu refúgio,
Amedrontada e pálida
Por você não me amar...