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sábado, 30 de março de 2013

Opinião


Não admiro a poesia óbvia.
Que me perdoe quem escolhe essa vertente,
Mas o que não me surpreende,
Por conseguinte, não me toca.

Não admiro a poesia que em nada inova.
Que me perdoe quem não me desperta o inconsciente.
Mas o que não me renova,
Por conseguinte, não me prende.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Valsa Flamejante



Eu quero te dar o amor que não me couber.
Isso e muito mais, mas bem devagar
Pra quando você souber
Não quiser escapar, e sim transbordar
- De mãos dadas, se puder -.

Comer pipoca nos preguiçosos domingos,
Dançar essa valsa, me abraçar, contar: ¾.
E me pertencer de mansinho...
Pintar as paredes do quarto
Com trechos de canções, meus refrões chatos...

Para assim, ver girar todo o universo
E em cada toque que eu conseguir arrancar
Me inspirar para compor um mundo de versos.
Ter taquicardia ao te beijar,
Sentir arrepios diversos.

Eu só quero rimar sua vida com a minha.
Poder dividir e somar, talvez multiplicar
E não ser mais mesquinha.
Quero algo pra crer, um nós para acreditar
E que nunca chegue o fim da linha...

Um futuro laço, ser tudo e nada,
Aprender o que é plenitude.
Por você, ser dedicada
O bastante, suficiente, descobrir virtudes
E seguir a estrada...
Seguir nessa estrada.
Seguir nossa estrada.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Hóspede


Bateu à porta,
Pediu um copo d'água
E eu logo chamei para entrar.
Falei da minha rotina torta,
Contei inúmeras mágoas,
Preparei um café
E começamos a tomar.
Sem que déssemos fé,
A noite chegou
E a visita timidamente falou
Que não tinha casa, tampouco onde dormir...
Após muito insistir,
Ofereci o quarto de hóspedes.
Separei um lençol limpo e fui aos meus aposentos.
Com o passar dos tempos,
Sem que eu percebesse,
Minha cama foi ficando pequena
E eu, apertada contra a parede.
Já dormia ao meu lado,
Ocupava grande espaço;
Até puxava o cobertor.
Hoje chamo de amor,
Companheiro querido, eterno amigo:
Nossa intimidade chegou ao cume.
Reitero sempre e sorrindo, digo:
Bem-vindo a minha vida, ciúme.

sábado, 16 de março de 2013

Fênix



Acho tão injusto
Esse teu trato...
Só porque sabes bem
Que já me tens na tua mão.

Acho tão incômoda
Essa tua falta de tato...
Só por saber também
Que já tens meu coração.

Então te peço, por favor:
Não confia na garantia
De que basta amor
Para compensar a apatia.

Então te peço, por gentileza:
Não te conforma com o sentimento
Que, correspondido com firmeza,
Não se mantém isolado ao vento.

Aprende que reciprocidade
Não é suficiente se estiver isolada.
Pois é fato que a felicidade
Não é apenas amar e ser amada.

Entende que para dar certo
Não depende somente de um.
Pois a relação é de dois que estão perto,
Não distantes de um lugar comum.

Recordo bem como foi a princípio
E é o que guardo dentro de mim:
A lembrança antes do precipício
Que nos encaminhou ao fim.

Preservo o nascimento de tudo
E é o que prefiro ter em mente:
A memória saudosa ao fundo
Que antecede qualquer poente.

Ainda há tempo para mudança:
Resgata o que existe em nós,
Porque sofrer demais cansa
E tem mais contras do que prós.

Ainda há tempo para retorno:
Reinicia o que outrora começou!
Porque meu corpo está morno
E lembra por quem se apaixonou.

sábado, 9 de março de 2013

NA(MORADA)


I

Ela apareceu no meu quintal
Simplesmente, de vestido florido.
E por mais que não parecesse real
Trazia a primavera inteira em tecido.

Lembro da estampa, mas nem ligo
O que importa é o magnetismo de nossos corações.
Levou minha densa neblina consigo:
Despida ela era, ao mesmo tempo, todas as estações.

Ela se apresentou, graciosa,
Cheirando a um leve aroma de lavanda
E logo se espalhou, ociosa...
Em breve, tomaria conta da minha varanda.

Entrou e deixou flores pela casa.
Sentou no sofá, debruçando-se em meu colo.
Pergunto-me se ela ainda me atrasa
Ou se chego sempre tarde por minha culpa solo.

II

Ela tirou as teias da biblioteca,
Me fez comprar uma cadeira para o escritório.
Dia-a-dia regou o que não mais resseca
E renovou o visual do dormitório.

Quando enfim se infiltrou na cozinha,
Preparou o melhor omelete.
Nas noites, nunca podia me sentir sozinha...
Inclusive, adotamos um pet.

Hoje me dou conta que o lugar é o de menos,
Desde que ela seja minha namorada.
O que me vale é o amor ameno, regado a beijos serenos
E esta mansão não é nada, pois ela é minha morada.

Pus o poema no passado e soou como despedida,
Porque um minuto sem ela é uma eternidade de solidão.
Ela partiu há pouco e eu disse: - Não se demore, querida!
Aguardo seu retorno... Ela foi só comprar pão.

domingo, 3 de março de 2013

Vigília



Em cada pequena lágrima,
Há uma discreta lástima
Pairando sobre a pseudo-paz
De uma alegria fugaz
Que se esvai em questão de segundo.
Para onde caminha o mundo?
Como se consegue ser feliz
Ao ver que só por um triz
Continua faminto o homem
Sem saber de quê tem fome?
Ando assim sem norte,
Dia-a-dia escapando da morte
À espera de uma razão
Para fugir na contramão
Da rotina que sempre me guia.
Permaneço então em vigília
Reiterando a vida amena.
Sorrio com a face serena
Na certeza de que é impossível
Contentar-se vendo o inadmissível.