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terça-feira, 28 de abril de 2015

9090

Parceria com Adriano T. Mira


Quis ligar de algum telefone desconhecido.
“Ela não costuma atender números privados”, pensei a esmo.
Mas aí lembrei que o maior desconhecido
Era eu mesmo.

Às vezes procuro por pessoas que não fazem parte de mim.
Mas a maior falta é de mim mesmo.
Fico a olhar a tela do telefone na esperança dela retornar,
Mas lembro que nem uma mensagem enviei.

Me perco entre números na esperança de ter digitado errado,
Só para não estraçalhar a esperança.
Fecho os olhos, sim: é ela que me vem linda e suave.
Meu peito não suportaria ter que terminar outra conversa.

O telefone na mão suando e tremendo.
O coração acelera a cada vez que penso em discar. 
Os dedos encostam nas teclas,
Mas a força me falta.

Depois de tanto tempo, o que ainda há para se justificar?
O erro não pode ser consertado.
O que resta é me conformar
Com os fracassos aos quais estou fadado.

A mera vontade não me deixa mais digno de mérito.
Ainda que ela atendesse, eu ficaria mudo do outro lado da linha.
Para evitar meus fantasmas, sequer ponho crédito:
Me amarro às memórias da voz que ela tinha.

As lembranças frequentemente surgem para me cobrar
Pendências mal resolvidas de um passado presente.
E se, talvez, eu ligasse a cobrar?
A saudade é urgente.

Mas vejo que, neste momento,
Me tornei apenas uma imagem borrada.
As respostas só são dadas aos poucos pelo Tempo
E o silêncio fala melhor que qualquer chamada.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Revel(ação)


As certezas só surgem no fim.
Todas as obscuridades se esclarecem, enfim.
A missão da omissão encerra:
concluída com sucesso.
A mentira se enterra,
a guerra entra em recesso.

As crises terminam,
tristezas germinam
e a vida segue;
cada caco se ergue.

Há um teorema
de que todo poema
nasce de uma epifania.

Qualquer verso é um pedaço de coração.
A reação é uma estrofe:
Let's drink some coffee...

Contemplar uma dolorida confissão
é a chave para a libertação.

A verdade é que a poesia
é parida pela verdade.