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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Conta-gotas


Chorei um rio
de lágrimas.
O bastante para afundar um navio
e preencher inúmeras páginas.
Depois de saber
com quantos paus se faz uma canoa
você conseguiria responder
com quantas mágoas se faz uma lagoa?

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Ticket


No parque de diversões, 
Em apenas um instante,
Encontro de corações:
O amor é uma roda-gigante.

Colorindo o azul do céu, 
Não há como voltar atrás:
Quando se passeia no carrossel,
Tum tum piii é a onomatopeia que faz. 

Carrinho de bate-bate?
Bate-bate o batimento.
Algodão doce é melhor que abacate,
Mas maçã-do-amor é o melhor alimento! 

Quando se entra no chapéu mexicano
Os defeitos da amada começam a se revelar.
Eis que o destino é circo cigano:
O futuro só tende a desapaixonar, 

Pois o amor também é montanha-russa…
Altos e baixos até enjoar.
Cedo ou tarde, servirá a carapuça:
O último ingresso é no brinquedo Desencantar.

domingo, 14 de dezembro de 2014

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

PET(rificado)


Depois do término de meu último relacionamento,
Ganhei um bichinho para me distrair e acompanhar.
Cuido dele com carinho e lamento
Que ele esteja engordando tanto sem eu sequer me esforçar.

Todo dia, no café da manhã,
Ele come pitadas de não-ditos.
No almoço de amanhã,
Servirei um prato de entrelinhas e erros implícitos.

Na janta, dou-lhe migalhas
Das coisas que poderia ter feito
Em doses pequenas e homeopáticas
E, depois desse ritual, deito.

Meu animalzinho está virando um monstro
Muito domesticado e dócil.
E tudo que eu demonstro
É um processo gradual de transformação em fóssil.

Em busca de justificativa,
À procura de motivos para me sentir mal,
Parei e vi que sou cativa
De algo absurdamente anormal:

Tanto tempo sem ter porquê,
Catei razões para continuar meu martírio,
Ao pensar que perder você
Fosse um pagamento justo e doído.

Hoje vejo que pessoas vêm e vão
Independentemente de nossa boa vontade.
Ninguém manda no coração:
A paixão acaba e alguém (se) parte.

Meu filhote já está bem menor agora.
Nem se consegue ver com uma lupa.
Fiz tudo que estava a meu alcance e até fora.
Lavo minhas mãos. Ah! O nome dele é
Culpa.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Brasil Novo/Universidade


Avistei você passando descontraída
Na calçada, do outro lado da rua,
E confesso que me senti traída
Ao te ver sorrindo de forma tão pura.


Acho que quando a gente sofre
Espera que o mundo em volta tenha um matiz escuro.
Mas nem tudo cheira a enxofre:
Seu par de jabuticabas continua maduro.


Você estava com minha roupa favorita
Enquanto eu já nem sei mais o que visto.
Pego a peça que estiver menos rota e encardida,
Combino xadrez com listras e é isto.


Só eu ando por aí, monocromática.
O universo ao redor ainda é colorido.
Porém, como sou ruim em Matemática,
Esqueci que na soma 1+1, um dos uns sempre sai ferido.


Vi coisas que não podem ser desvistas,
Tantas que me ceguei para o resto.
Com elas, fiz inúmeras listas,
Que guardo para mim e não empresto.


Mas mesmo assim, enxerguei você,
Pela janela do transporte público.
Meu coração quase parou de vez:
D(o)eu um pulo de súbito.


O ônibus arrancou de primeira
E a descarga jogou na atmosfera dióxido de carbono.
Mais uma sexta-feira
Do tom da substância lançada na camada de ozônio.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Décimo Primeiro Mês


Quanto tempo faz, que já nem lembro?
Quanto tempo falta para demorar?
Ando sem lenço nem documento,
Só um GPS para te encontrar.

Quanto tempo faz? Já foi novembro...
Quanto tempo falta para superar?
E eu decorei cada momento:
Uma pasta de imagens para recordar.

Mas o tempo está a me atropelar.
Quanta vida me resta gastar?

Quanto amor eu dei sem vencimento?
Qual lastro eu tinha para usar?
Acho que cheguei nos 100%
E o meu estoque já vai transbordar.

Quanto amor cabe dentro de um incenso?
Quem sabe, de repente, eu possa queimar.
Talvez ele vire pó, e lento,
Possa enfim, meu peito, sossegar

Mas o amor está a me afogar.
Quanto ainda consigo respirar?

Pela ampulheta caem cinzas
Em vez de areia para me guiar.
Os ponteiros marcam horas findas
Em vez de uma chance de recomeçar.

sábado, 1 de novembro de 2014

Queloide


Quando a tristeza anestesia a esperança
De um amor que se findou,
Este mesmo amor gera uma lembrança
De um fio que sempre esteve por um fio...
E enfim se cortou.

O fio, outrora de cobre
Agora não cobre a costura do tear.
Frágil, este mesmo fio se descobre
E amortece, e tece
O não se importar.

De tanta dor, o amor não se esquece,
Mas cria espaço para a chaga fechar.
E o fio, por um triz,
Virou cicatriz
Até a pele sarar.

Depois de anestesiado
Pelo amor do passado
Que ainda está vivo,
Apenas um pouco sonolento...
Em desmedido sofrimento,
Termino de bordar o tecido:


Amor-tecimento.

domingo, 26 de outubro de 2014

Síndrome de Estocolmo


se amor é despedida
e o fim inevitável é sempre um adeus
não vejo justiça na vida
que teima em desgraçar os filhos seus.
amor de verdade é desprendimento,
um desalgemar da alma,
passagem só de ida com o vento,
uma esmola dada com calma.
prazo de validade?
quando a gaiola se abre
não importa a idade
apenas se sabe que é tarde.
dou-me por vencido.
o código de barras atesta:
produto podre, coração ferido,
acabou a festa.
culpa de quem?
do amor?
discordo, vou além.
o amor é indolor.
é desapego sincero,
um bem-querer que se quis,
um acenar singelo
de quem só quer ver o outro feliz.
responsabilizo pois,
os amantes.
que adiam, deixam para depois,
o que deveria ser feito antes.
os pulsos machucados
são libertos devagar...
com a jaula entreaberta
vou voltando a respirar:
posso voar!
mas prefiro ficar e esperar.
mais que amante, sou tola
por crer que a mola
do mundo é o amor.
e que o tempo não apaga
as contas das tecelãs do destino,
tampouco serve de adaga
para cravar no peito a lâmina do desatino.
as velhas costureiras me miram
com os olhos negros e enrugados
e tudo que me ensinam
é a não desistir do que está escrito e tatuado.
na pele
nas estrelas
no cerne
nas veias
e por escolher permanecer
sou refém da felicidade,
para contigo ser...
aprisionada por vontade.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

TOC-TOC


É notório:
Todos elegem um bode expiatório
Para evitar a Felicidade.
O trânsito na cidade,
O trabalho, a ausência de tempo.
Mais um congestionamento!
Os filhos, a reforma na casa.
Sempre há um imprevisto, um contratempo.
Até que a Felicidade se cansa,
Devagar, sem lenço e documento,
De tanto baterem-lhe a porta na cara.
Tranca-se a porta com mil ferrolhos;
À espreita, um milhão de olhos
No olho mágico,
Para observar a partida da visitante
Que, por um instante,
Hesita em abandonar o destino trágico.
E a vida é exatamente isto: abandono.
Enquanto a Felicidade vagueia sem dono,
Permanecemos no sofá da sala
Com a TV ligada
Reclamando por nunca termos ganho na loteria.
Os números da Mega-Sena!
Isso sim seria alegria.
E já sai de cena
A chance,
Às vezes percebida apenas de relance
Pelos que possuem uma viseira mais curta
Que permite enxergar melhor a luta
Da Felicidade, que agora pula a janela.
Olha ela!
O alarme de segurança soa.
Agora a Felicidade foge da sirene que ecoa;
Criminosa, gatuna, bandida,
E a gente segue lamentando a vida
Pela falta de sorte.
Eis que chega a morte
E a Felicidade? Ainda foragida.
Mendiga,
Clama por um pedaço de pão.
Quem sabe um dia
Alguém abra as portas do coração
E diga com mansidão:
- Seja bem-vinda, imensidão.

sábado, 11 de outubro de 2014

Eco


Respirar o ar da solidão
Nem sempre é um peso intranquilo,
Um penar para o coração,
Prestes a cometer algum vacilo.

Nas quatro paredes do quarto,
O eco é meu amigo.
De minha presença nunca me farto;
Apenas um bom livro comigo.

O barulho lá fora é alto.
Buzinas, ruídos das bocas falando...
O céu adquire tons de azul cobalto
E na janela observo as pessoas passando.

Ouço meus tantos pensamentos,
Tento organizá-los de forma sistematizada.
Somente não possuo muito talento
Quando o quesito é ser amada.

Estar só é um privilégio
Em tempos que todos mascaram.
Num bar, vozes vazias recheadas de tédio
Refletem almas que se decepcionaram.

Viver só é um estado de espírito
Em tempos que todos disfarçam tal condição.
Na rua, o poeta culpa seu eu-lírico,
Enquanto, na parada, aguardo a próxima condução.

Terminei o livro e gostei do enredo.
Busco um novo alvo na vasta estante.
Do som do silêncio não tenho medo:
De mim mesma, sou ótima acompanhante.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Bilhete único



Amar é desafogar a mala
para na mão caber a bagagem.
Amar é dizer que vou deixar de amá-la
para deixá-la seguir viagem.
Amar é devorar a dor que cala
para que a despedida peça passagem.

domingo, 21 de setembro de 2014

Aperte o Play



Pra caber
tudo que eu quero lhe dizer 
talvez fosse preciso um LP: 
lado A e lado B. 
Cada faixa, um apelo 
pra reaver o teu apego 
e ouvir até arranhar 
enquanto se faz a faxina 
ou no juke box de um bar; 
um disco de platina... 
O Faustão iria entregar. 
Talvez nem isso fosse o bastante: 
amor não se limita a uma estante, 
nem se eu gravasse um The Best Of... 
Haveria você em cada estrofe, 
totalizando mais de mil... 
Não serviria nem um daqueles CDs Perfil: 
o que sinto não se resume a nenhum vinil.

domingo, 14 de setembro de 2014

Sobre o pêndulo que caiu no poço.


Todas as suas razões eu já sei de cor.
De estrela, enfim, tornei-me pó
quando o corvo solenemente crocitou
o trágico destino que não vingou.
And at my chamber door,
assim como Poe escutou,
o anúncio inevitável soou:
Nevermore.

A distância
é uma criança
que cresce, às vezes, em menos de um mês.
Um gesto incontido, algo que você nem fez.
Quando se vê, já é muito tarde,
e a despedida se dá sem qualquer alarde.

Um gato preto cruzou o caminho
mas não o responsabilizo por esse azar.
E agora, persisto, andarilho sozinho
já sem esperanças de recomeçar.
Plantei, num jardim, ilusões com carinho
e de uma semente de amor
brotou uma flor...
Do(f)lorida:
Murchou em 5 dias.

Qual foi meu erro?
Um passo para a liberdade:
Conceito tão vago, um ritual, um enterro?
O nunca dura uma eternidade.

(O poema faz referência a três obras de Edgar Allan Poe: os contos “The Black Cat” e “The Pit and the Pendulum” e o poema “The Raven”).

domingo, 3 de agosto de 2014

CPF


o homem casto
carrega consigo
todos os desvios.

o homem desviado
carrega consigo
toda a castidade.

o homem puro
que não toma banho
é sujo.

o homem sujo
que toma banho
é limpo.

o homem que se veste
de mulher
pra mim
é mulher
porque é isso
que quer.
porque sente
que é isso que é.

mas pros outros, aquele homem
ainda é homem,
e sempre vai ser
só porque nasceu homem
e assim deve se manter até morrer.

não importa a falta de ética,
desde que não se contraponha à genética.
a natureza não tem que ser exata,
nossa natureza é a gente que acha.

identidade não é sinônimo de rg!
nosso registro no mundo
não deve ser uma sequência de números
que só servem para jogar no spc
enquanto cada um se ensardinha
no vagão do metrô
e no fim da linha
implora por um pouco de amor.

AQUI NEM TEM METRÔ!

a luta é por uma cadeira vazia
no ônibus de meio-dia.

fodam-se os cromossomos!
quem, além de nós mesmos,
pode ditar o que somos?

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Eva(cu)ar


Recentemente assisti a uma entrevista:
Nela, com um ar que lhe é peculiar,
Dercy Gonçalves enumerava, em uma lista,
Que as melhores coisas são: comer, dormir e cagar.

Ora, a respeito de tal testemunho
Refleti e cheguei à conclusão
De que sobre tal opinião e por seu cunho,
A senhora estava coberta de razão

Principalmente no que se refere ao ato
De expelir do organismo
O barro que maltrata o olfato:
Uma espécie de exorcismo.

Aquilo que não possui serventia
É logo expulso do corpo.
Defecar é pitoresca alegria
E um legítimo aborto;

A maneira mais fácil de se libertar
Daquilo que já não faz mais sentido.
Tudo que está, em vão, ocupando lugar,
Deveria ser logo banido.

Mas o ser humano tem uma dificuldade tremenda
De abandonar de vez o que já não serve,
Talvez por tradição, mito ou lenda,
O que é pretérito ainda se conserve.

Se cagam brancos, cagam pretos,
É porque bosta não se armazena.
Emendas são piores que sonetos,
Pois o passado também aliena.

A sábia Dercy deu o bolo e, bem acima, a cereja:
Mesmo que doa ou arda a despedida,
Por mais complicado que seja,
Livre-se das merdas de sua vida.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Marabaião

Vim embora do sertão,
Onde faz uma seca danada,
Mas não há seca pior
Que a ausência da amada...

Lá deixei meu coração,
Não aguentei o clima forte
Mas a minha solidão
Agravou-se sem meu norte.

Sem meu norte eu vim pro Norte,
Que fica mais pro Oeste,
Pouco antes do Oiapoque,
Dei adeus para o Nordeste.

Nessa saga viajei milhas
Em busca de redenção,
Quando cheguei, mil maravilhas:
Era água em imensidão.

Meu Deus do céu, que rio bonito
Outro assim eu nunca vi...
Achava que era apenas um mito
Que a gente ouve por aí.

Fixei-me nesta terra
Acostumei com o calor,
Mas ainda era uma guerra
Sobreviver sem um amor.

Pensava no meu Nordeste,
A saudade era um açoite,
Pra completar, o meu agreste
Era dormir sozinha à noite.

Chegou a Páscoa em um domingo,
Começou um novo ciclo:
Fui pro bairro do Laguinho
Na missa de São Benedito...

Nos dias subsequentes,
Muita festa e gengibirra,
Marabaixo, cachaça quente
Pra despertar a alegria.

Eu só na base do mé
Avistei uma saia rodada
E confesso que sou ré
Por olhar a moça errada.

A timidez tomou de conta
Porque eu não sabia bailar
E considero uma afronta
Se inxerir sem nem dançar.

Com umas doses na cabeça,
Consegui me soltar devagar,
Pensei: “antes que amanheça
Essa dama vou abordar”.

Já um pouco alterada,
Aproximei-me da menina.
Ela estava acompanhada,
Seu nome era Catarina.

Catarina namorava
Um brucutu metido a besta
Que chiava e não gostava
Que ela dançasse em qualquer festa.

Cada vez que ela rodava,
O mundo se rendia a seus pés
E o ogro com a cara amarrada
A levava embora de revés.

No fim do ciclo os dois brigaram
E ele quis bater em Catarina
Os donos da casa apartaram
Quase às 6 da matina.

Ofereci uma carona
Quando o porre desapareceu.
Não pode vir nunca à tona
Aquilo que se sucedeu.

Hoje aqui eu já me encaixo
E fiquei com minha nega.
Em noites de Marabaixo
A gente gira e se aconchega.

Sinto falta do Nordeste
Mas o Norte virou paixão:
No tambor que se aquece
Entoo mais um ladrão.

Os triângulos e as sanfonas
Deram lugar ao batuque
Enquanto o Amazonas
Pororoca sem ter truques.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Matéria-Prima


Um químico explicaria
Que o ser humano é composição séria:
Somos feitos, basicamente, de oxigênio e carbono.
Um poeta como Shakespeare já diria
Que o ser humano possui outra matéria:
Somos feitos, essencialmente, de sonhos.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Infanticídio


Quando eu era pequena,
Certa vez, vi uma cena
Em um desenho que eu gostava.
Quando a geladeira fechava,
Lá ia um pinguim e apagava a lâmpada.
Eu encasquetei com aquilo por implicância
E comecei a abrir e fechar a geladeira
(Curiosidade ou brincadeira),
Sonhando desvendar o grande mistério
E quando solucionei, achei um despautério.
A partir dessa descoberta,
Veio a realidade dura
Através de uma fresta, uma porta entreaberta,
Ou o buraco de uma fechadura.
Foi-se embora todo meu encanto de criança.
Com o tempo foi-se o Papai Noel, foi-se a Fada do Dente,
O Coelhinho da Páscoa e... A esperança.
A gente cresce iludido e pensa
Que ser maduro é se deixar invadir pela descrença.
De fato, o ingênuo, aqui, não dura muito
E, se durar, é apenas caso fortuito.
Hoje já adulta e mais consciente,
Olho para o mundo
Percebendo o meu redor.
Tá tudo tão feio, egoísta e imundo
Que imagino que seria melhor
Para o bem do amor, da ciência
E também para mim
Ter continuado a acreditar na existência
Daquele franzino pinguim.

sábado, 5 de julho de 2014

Rumo a... Lugar Nenhum


Eu ouvi que milhões foram gastos
Em grama sintética e campos fartos.
Mas conto, sem nenhum encanto,
Que fui assaltada ali no canto.
Fruto de uma sociedade injusta e excludente,
Todos querem ver o bandido morto
Para sambar em cima do corpo
Como se isso resolvesse tudo
(A não ser a raiva momentânea do susto).
Assim, fico refém das grades
Das cercas elétricas e dos alarmes
Prisioneira em minha própria casa
Apenas para não me tornar caça.
Pergunto-me se a esperança
Por um título vale mais do que a segurança.
Sim, a gente acha uma merda
Tanto desvio de verba,
Mas compra a camisa da seleção,
Ignora o escândalo do mensalão
E a vida segue.
A pouca memória do povo se ergue
Com o comodismo de sempre
Que transforma a gente em indigente.
Preferiria mil vezes hospital e escola
Do que me contentar com um hexa de esmola.
Mas aí o Doutor Ronaldo
Diz que o mais relevante são os estádios
Em entrevistas veiculadas nos jornais e nas rádios.
E o senhor Pelé sugere que o negativo saldo
Pode ser compensado com turismo.
É ser muito ingênuo ou otário
Ou então é muito otimismo.
Aí quem protesta
Corre o risco de levar bala de borracha na testa,
Gás lacrimogêneo na cara,
E outras atrocidades que o Estado mascara.
Enquanto a barbárie vira moda,
Continua rolando a copa.
Agora tanto faz, pouco importa
A corrupção
Ostentada pelo lábaro estrelado e anil
Porque eu ganhei no bolão:
É mais um gol do Brasil.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Romaria



O lado de lá
Que é o lado bom de se estar.
Pergunte ao seu orixá!
Aqui é só blablablá,
Apenas terreno lugar.
Um dia hei de voltar
Ao pó de onde vim
Que não é começo nem fim,
Somente parte de mim.
E como fênix ressurgir
Pronta para novamente partir
Até minha real origem,
Nem devassa nem virgem,
Mas viajante estelar.
Eis que já estou outra vez cá.
Oxalá!

segunda-feira, 16 de junho de 2014

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Amadure-SER


Hoje aprendi que posso viver dia após dia
Como se cada dia fosse o último, no presente,
E saber que não o é, na verdade,
Pois o que há depois do fim aparente,
Que a maioria acha,
É a eternidade,
Até que o ser humano renasça
E o ciclo todo recomece
A fim de que a evolução se faça.

Hoje aprendi que posso trabalhar sem demanda
Como se não existissem clientes me fazendo cobrança
E saber que o freguês da minha fila não anda
Pois a caneta sou eu quem comanda.
De tanto escrever sem oferta e procura,
Sou eu que ofereço minha própria cura
Até escorrer em versos, tinta, rima e epifania
Ou o que quer que seja que compõe este ofício
Onde não há encomenda ou precipício
Porque se trata de poesia.

Hoje aprendi que posso sofrer milhões de ofensas
Como se eu fosse um poço de fracassos subsequentes
E saber que perder, às vezes, não é nenhuma doença
Pois agora creio na vertente
De que ser menosprezada não importa.
Quantas vezes cair, mais ainda meu sonho será atraente
Pois é relativo o conceito de sucesso e derrota
Até que eu consiga e a mim mesma prove, por bem,
Que eu não preciso provar nada a ninguém.

Hoje aprendi que posso amar sem barreiras
Como se não existissem fronteiras
E saber que há equilíbrio na balança
Pois sentir sem medo não é sinônimo de ser aventureira.
Que se entregar é quase como ser criança
Quando se atira nos braços de quem deposita confiança.
Reconheci que sofrer é em vão
E entendi que o limite do amor
É o doce e etéreo sabor

Da imensidão.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Feriado



Não adianta
Sexta-feira santa 
Comendo peixe 
Só na garganta 
Ou de enfeite 
Fugindo de um gesto mundano 
E agir como profano 
Sendo cretino e grosseiro 
O resto do ano 
Inteiro.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Binômios



Há quem possua o dom da síntese
Enquanto há quem prefira a análise. 
Já eu me contento em ser antítese, 
Paradoxo em eterno processo de catarse.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Enxurrada



Hoje a chuva,
através da nuvem 
de meus olhos, 
caiu-me como luva 
porque água não se retém.

domingo, 30 de março de 2014

Líquido Celestial


Lágrima do céu,
Cai gota a gota,
Até se tornar troféu 
Pois a natureza não aceita derrota. 
De folha em folha se embala, 
Escorregando pelo galho, 
Fixa na pétala... 
Orvalho.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Utopia


Aumente o zoom
Consegue enxergar 100%?
Somos todos um.
Haverá um tempo
Em que não será preciso
Nenhuma lupa
Nem juízo
Pois não existirá culpa.

Aumente a mente
Consegue enxergar no total?
Somos todos gente.
Haverá um dia fatal
Em que não será necessário
Nenhum holofote
Nem ego exacerbado
Pois não existirá fraco ou forte.

Aumente a visão
Consegue enxergar bem?
Somos todos canção.
Haverá um dia também
Em que só se ouvirá uma voz
Nenhum semitom
Nem desafinação feroz
Pois não existirá falta de dom.

Aumente o panorama
Consegue enxergar com exatidão?
Somos todos raça humana.
Haverá uma época de revelação
Em que só se falará de abundância
Nenhuma terra infértil
Nem ganância
Pois não existirá tiro de projétil.

Aumente a perspectiva
Consegue enxergar com senso?
Somos todos massa viva.
Haverá uma era de consenso
Em que o foco será a mudança
Nenhum ócio contraproducente
Nem desejo de vingança
Pois a prioridade será o presente.

Aumente a lente
Consegue enxergar direito?
Somos todos esse presente.
Haverá um período de respeito
Em que o objetivo será a unidade
Nenhuma grade, cerca ou muro
Nem individualidade
Pois a intenção será construir o futuro.

domingo, 23 de março de 2014

Nômade



Nasci circense;
Nem americana,
Nem amapaense:
Sem morada.
Conheci apenas,
A duras penas,
O pé na estrada.
E, como passe de mágica, 
Vi-me numa peça 
Épica, romântica ou trágica: 
Estava presa 
Por vontade própria 
Na cidade ilusória 
De teus lábios. 
No picadeiro 
Estava entregue por inteiro 
Em teus braços. 
Depois de rodar tantos bares, 
Estava eu ali, 
Alvo de teus malabares, 
Como vítima que ri 
De seus azares. 
Nunca caí do trapézio: 
Meu truque é ser alada. 
Mas no fim, dei-me por vencida... 
Todos disseram: “palhaçada”! 
Julgaram-me descabida 
E seguiram viagem 
Enquanto eu escolhi a vida 
Sem quilometragem.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Definição



Amor:
Quatro letras, um vocábulo
E ao mesmo tempo tão arbitrário
Que nenhum dicionário
Consegue, de fato, conceituá-lo.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Hipótese


O futuro do pretérito
Tem lá seu mérito;
Está mais perto
Do que se imagina.
O mais certo
- Eis minha sina -,
É que no meu caso
Ele mora ao lado:
Eu te amaria
E encheria de carinho
Se você não tivesse dado
Para o vizinho.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

domingo, 5 de janeiro de 2014

À Véspera do Escarro


Camarão que dorme a onda leva.
Homem que se distrai é engolido pela selva.
Dormi; distraí-me.
Traí-me.
No meu sonho, muito me iludi.
Imaginei um mundo onde as pessoas não precisavam prejudicar umas às outras para serem felizes.
Onde puxar o tapete não é a única forma de vencer que existe.
Acordei pisoteada, coberta pela areia da praia,
Subjugada por não me igualar à tal laia.

Neste mundo não há lugar para ingênuos.
Augusto dos Anjos advertiu e era mesmo um gênio.
Neste mundo, os bons são sempre esmagados.
Terra miserável só dá frutos putrefatos.
Neste mundo, o trigo já anda pouco:
A lama que nos espera multiplicou o joio.

Entretanto, se for para me tornar tão vil,
Se for para transformar meu coração em mero objeto vazio...
Permanecerei nos braços de Morfeu, pois neles o mundo é menos feio
E que venha a onda, levando-me junto com meu pueril devaneio.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Amanhe-SER


Ano novo, novo ano...
A vontade de traçar um distinto plano
Está dentro de nós:
Em cada despertar soturno,
Em cada pensamento noturno,
Cabe o desejo de mudar.
Em todo amanhecer
É um ano novo que está a nascer.
Não precisa esperar 365 dias,
Pois o réveillon é mera simbologia:
A disposição de seguir em frente
E fazer tudo diferente...
Depende somente da gente.