Menu

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Inanição


Na mesa de jantar, há lugar para dois
Mas as refeições tem sido solitárias
Como obrigada o mesmo feijão com arroz
E repetidas receitas culinárias.

Todavia, o alimento de minh'alma
Nunca mais apareceu na cozinha;
Louça acumulada e o eco da palma
Proveniente do portão da vizinha...


Prossigo sujando inúmeros pratos,
Mantendo uma incurável anemia:
Meu coração é corroído diariamente por ratos
Pois sei tanto de amor quanto de gastronomia.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Travessia


I

O ruim de viver em cidade pequena
É o risco de te encontrar em qualquer esquina,
Ou de algum amigo em comum pôr lenha
Perguntando se tenho te visto por sina.

Dessa forma eu ando e admiro rostos
E em cada face vejo um traço teu.
Permaneço então, eternamente a postos,
Com a lembrança acesa do teu adeus.

Transito por uma e outra loja
E te desenho em cada manequim
Que no corpo plástico uma roupa aloja
Na vitrine fria refletida em mim.

Assim, fujo da obra do acaso
Atravessando a faixa de pedestre:
Em cada listra branca penso em nosso caso
E questiono se foi tudo um teste.

II

Já na calçada, recupero o orgulho
E resolvo me valorizar acima de tudo.
Mas afinal, sentimento ruim é entulho
Que apenas deixa mais feio o mundo?

O semáforo fecha e eu na contramão
Peso todos os perdões que concedi
Com a intensidade de tua ingratidão
E percebo que dei bem mais que recebi.

Imagino às vezes que se te enxergo
É porque simultaneamente também recordas,
Onde quer que esteja, nosso amor cego,
Que se enforcou com a própria corda.

Se em cada rua o perigo ainda existe,
Da solução fico agora ciente:
Ou essa travessia dolorida persiste,
Ou então me mudo de continente.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Ciclo


Em cada passo, a distância aumenta.
Tuas pernas caminham lado a lado...

No horizonte longínquo, a miragem trêmula:
Somes de mim e do meu passado.

E em cada dia dessa nova rota,
Livro-me aos poucos de meus fantasmas;
Um caminho alegre da terra brota,
Uma via limpa sem antigos carmas.

Meu sorriso, enfim, do rosto desaba,
A solução final para curar a dor.
É ciclo eterno pois nunca se acaba:
Esquecer um amor com um outro amor!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Porvir



Meu bem, eu me pergunto se isso vai durar
E eu te pergunto no que isso vai dar
Será que o nosso amor vai vingar?

Meu bem, eu me entrego como se não houvesse amanhã
E eu te entrego a luz de cada manhã
Será que vale a pena esse afã?

Meu bem, eu me desespero na dúvida do porvir
E eu te desespero até talvez desistir
Será que te sufoco com a intensidade do meu sentir?

Meu bem, eu me calo para não arrefecer
E eu te calo por não saber o que fazer
Será que basta querer para nosso amor vencer?

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Marciana



Amar-te é sentimento sublime que invade
Cada mínimo espaço de minh’alma esquecida.
A Marte eu iria como qualquer nômade ou náiade
Só por teu beijo cálido na despedida.

Alarde eu fiz sobre aquilo que guardo,
Ciente da beleza de teu sorriso esculpido.
Alarme tocou e carrego o fardo
De conter um amor não-correspondido.

Enfermo meu peito prossegue doído
À espera do fim da platonicidade...
Infarto no leito com o coração moído
Emoção repentina: reciprocidade.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Restos


I

Ainda há um pouco de ti pela casa:
A escova de dentes perdida,
O chinelo roído na entrada
E a lembrança da despedida.

Ainda há um pouco de ti em cada beira:
O fio de cabelo no banheiro;
O termômetro na geladeira;
E no quarto, teu cheiro.

Ainda há um pouco de nós no travesseiro:
A gota circular no colchão,
O brinco perdido no meio
E na cama, solidão.

Ainda há um pouco de ti nas cadelas:
A espera pelo habitual cafuné,
O prato de ração delas
E as orelhas em pé.

Ainda há um pouco de ti no jardim:
As flores que um dia regaste...
A rosa, orquídea ou jasmim
E o balde sem haste.

Ainda há um pouco de ti na cinza das horas:
O segundo de carência,
O minuto de histórias,
E essa abstinência.

II

Ainda há um pouco de nós em nós:
O choro contido no ônibus,
A confissão passada a sós
E os silêncios tristonhos.

Ainda há um pouco de nós no próximo:
O ombro sincero de algum amigo,
O falso que está julgando ótimo
E o pesar que ficou comigo.

Ainda há um pouco de mim em ti?
A esperança de um retorno?
O retrato meu que sorri?
E algum penar morno?

Ainda há um pouco de ti em mim:
A aliança guardada na bolsa;
A mensagem antes do fim
E essa saudade, moça.

Ainda há um pouco de mim em mim:
O pouco que já não é mais nada.
O pouco que hoje jaz, enfim,
E a tua ausência, amada.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Maldade



Saudade
é maldade
causada pela distância,
para aumentar a ânsia
de estar mais perto
de quem nos tirou do deserto.

sábado, 27 de outubro de 2012

Intriga de Roda


A Rosa brigou com o Cravo
Debaixo de um barzinho:
O Cravo soltou os caralhos
E a Rosa deu para o Azevinho.

O Cravo, só na birita
Nem cogitava parar.
A Rosa cansou dessa vida
E mandou o Cravo pastar.

Depois do dito divórcio
A Rosa não mais despedaçada
Suga outro pólen sem remorso:
Encontrou a Samambaia.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Moeda de Troca


A fé que acalma um coração aflito
Amansa o desespero e ameniza o conflito
É a mesma fé que na alegria concebida
Não agradece a graça concedida?

Jamais! A fé nada tem a ver com essa culpa.
A falha é do falso fiel que, sem desculpa,
Sabe pedir e espraguejar à vontade
Caso não consiga o que almeja da divindade.

Crença não deve ser objeto de barganha;
Deixar promessa pendente é baixeza tamanha!
Nessa vida, tudo pode ser comprado,
E entre corruptos também ser negociado...

Entretanto, um acordo humano
Não é válido no fim, pois é algo mundano:
Além do plano terreno, há muito mais!

Quando um corpo sucumbe e na cova jaz,

Não há como, depois, tentar moeda de troca.

Se a alma é pura, mediana, ou porca,
Assim será julgada sem tabela de preço:
O que é feito aqui hoje, define um futuro endereço.

domingo, 7 de outubro de 2012

Agridoce


Uma era açucarada
E a outra, amarga:
Levavam uma vida azeda,
E só havia incerteza
Até que se encontraram:
Sabores que se completavam.
O resultado poderia ser qual fosse!
Mas assim começara um amor agridoce.

sábado, 29 de setembro de 2012

Soneto sem Destinatário


Escrevo versos sem destinatário,
Conformo-me sendo remetente.
Apenas compor já me faz contente,
Desprendimento gradual e diário.

Dessa forma sigo sempre em frente
Fazendo de minhas estrofes, relicário:
Num monólogo, roteiro solitário,
Inspirado por ânsia latente.

Portanto, não dedico a ninguém
Nenhum poema, nenhuma carta.
Se um dia eu amar alguém,

Declararei o que sinto, e isso basta:

Pois quando acaba o querer bem,
A poesia marca e a palavra se arrasta.

domingo, 23 de setembro de 2012

Nome


O amor não tem conceito,
E tampouco preconceito.
O amor não tem nexo,
Cor, raça ou sexo...
O amor não tem religião,
Credo, seita ou sermão.
O amor não tem sobrenome,
Nem família de renome.
O amor só tem um nome,
E esse nome é: amor.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Ar(risque)


Baseado em hipóteses deduziu ideais
Sem saber que a vida é feita de experiências reais!
Prosseguiu com medo de decepções,
Sem aprender verdadeiras lições:
Descobriu no fim que temer o perigo é algo nocivo
- Viver de ses é existir no subjuntivo -.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Cegueira


Vou além do que vejo;
E aproveitando o ensejo,
Fechei os olhos e abri o coração
Porque sei que a verdadeira percepção
É mais ampla que meu campo de visão...

De que adianta um globo ocular,
Uma íris castanha para enxergar,
Se o ser humano é incapaz de sentir
A dor do próximo e o porvir
Sofrido de quem sequer tem para onde ir?

Se os cílios não me ajudassem a estender a mão
A quem não possui nem mesmo um pão,
A quem tem a fome como único bem que carrega,
A quem a vida todos os sonhos nega,
De nada serviriam meus olhos, pois eu ainda estaria cega.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Intransigência



Disseste que não suportas receber ordem
Mas de dogmas e regras todo mundo é refém!
Portanto, cuidado com esse conceito taxativo,
Porque o único verbo que uso no imperativo
É "ama-me" ontem, hoje e sempre, meu bem.

sábado, 11 de agosto de 2012

Prioridades


Ele queria ter amado mais;
Ele poderia ter amado, mas...
Ainda preferia deixar sempre para trás,
Cumpria metas que o amor não satisfaz!
- Sentiria, depois, que não é tudo que o tempo traz -
E que a vida passaria sem nenhum mérito:
Ah! Morreria, enfim, no futuro do pretérito.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Ciclo do Rio


O rio sente; o rio sorri.
Em cada onda que vem,
É uma nova alegria que o rio tem
E que se acaba, repentina.


A felicidade do rio é de um instante,
Pois logo que o desespero evanesce,
A onda leva, mas também traz, alucinante
Um novo sofrimento que aparece.


O amor do rio só algumas horas dura;
Segue um ciclo próprio de amar:
O sentimento se dissolve logo em água pura
E se renova todo dia em cada preamar.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Imobiliário


Acalma minha boca nervosa
Com um beijo de tirar o fôlego;
Bagunça minha vida harmoniosa,
Transforma meu andar firme em trôpego.

Abala minhas noites tranquilas
Com madrugadas insones...
Perambulando sozinha entre vilas,
Procuro desesperada teu interfone.

Abre a porta da tua casa
Porque não tenho mais endereço;
Carrega-me na tua asa
Que serei teu mais belo adereço!

Abarca a mim - teu apêndice -
Porque já não pertenço a mim.
Não pus placa de vende-se:
Doei-me inteiramente a ti.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Ma Lover





Je ne parle pas la langue française,
Fazer biquinho não é comigo.
Mas pour vous, para ficar contigo,
Agora sou chique e finesse.

Forcei minha mente: só saiu um oui.
Lembrei também de Edith Piaf,
Só que me calei temendo uma gafe,
Então inspirei fundo e falei mon cherrie.

Abriste um sorriso magnifique:
Trés jolie, beleza sensacional.
Com esforço, te chamei a um picnic...

Durante o encontro, diálogo especial:
Por entre olhares, meu pedido era "fique"!
Pra quê ser bilíngue, se o amor é universal?

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mesóclise


Após ser tão criticada,
Chamada de obsoleta, antiquada,
Do tempo do guaraná com rolha
Por ainda utilizar a mesóclise,
Fiz uma importante escolha:
Calar-me-ei eternamente.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Colheita


Meu coração anda lotado de tralha,
Hora de separar o joio do trigo.
Senão, mandem tecer minha mortalha
Porque viver em meio ao entulho é um perigo.

Viver em meio ao entulho é um perigo
E meu coração cansou de migalha!
Sinto falta do meu eu antigo,
Um eu que não admitia falha.

Um eu que não admitia falha
Deu lugar a esse coração amigo
Que tece a própria mortalha
Por não saber separar o joio do trigo.

sábado, 2 de junho de 2012

Retrato

Intertextualidade com a música Devolva-me, de Adriana Calcanhotto



Não rasga as minhas cartas,
Mas também não quero que me procures
Já que não desejo que me percas.


Basta de dar bastas,
Viverei melhor caso me cures
Indo além de imaginárias cercas.


Quero que sejas feliz
Só que seja comigo
E não com outro rapaz...

E por tudo que já fiz,

Não te quero como amigo,
Mas como minha fonte de paz.


Todavia, se preferires ir embora,
Leva meu retrato, enfim,
Porque apenas nele permanecerei sorrindo:


E assim, quando vires a foto e a hora,
Decidirás voltar para mim
Ao relembrar tantos momentos lindos.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Decepção


Nas madrugadas
Um brilho me acompanha:
Com as luzes apagadas,
Eu cheia de manha
Sinto vontade de chorar
Ao perceber, com muita dor
Que o brilho não vem do teu olhar
Mas sim da tela do computador.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Labuta



O poeta labuta;
A palavra astuta
Foge-lhe à mente.
Mas que saliente!


O poeta a recupera;
A palavra espera
Uma distração:
Foge de novo então.


O poeta luta;
A palavra encurta
O caminho
E deixa-o sozinho...


O poeta cansa;
A palavra amansa:
Contra a maré rema,
E está pronto um poema.

sábado, 12 de maio de 2012

Sabor Moreno

Teu sabor moreno
Sempre quente ou ameno
Castanho forte
À mercê da própria sorte
Teu aroma me invade
Cor de chocolate
Parece fruta do pé
Só parece, mas não é
Na verdade é um grão
Que perfuma meu coração:
A mulher tem gosto de café?
Ou o café tem gosto de mulher?

sábado, 28 de abril de 2012

Cômodos


Fica
Nessa cama com lençóis amarrotados
Fica
Nesse quarto decorado de memórias
Fica
Nesse banheiro com espelhos embaçados
Fica
Nessa cozinha repleta de receitas e histórias

Fica
Nessa parede da sala que acomoda nossos quadros
Fica
Nesse jardim de rosas e margaridas
Fica
Nesse escritório cheio de livros empoeirados
Fica
Nessa casa que resumiu durante anos nossas vidas.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Soneto de Decisão

 

No eterno desconcerto do mundo,
Cabem mais decepções que conquistas.
Portanto, nessas mágoas afundo,
Mergulhando em esperanças mal vistas.

E nesse sofrimento profundo,
As dores são tristezas contidas
Arquivadas no sótão imundo

De minhas anteriores feridas.

Se da vida só se leva derrota,
Se do amor só se tem rejeição,
Decidi mudar a minha rota

A fim de repousar meu coração:
Uma solução de repente brota
- Decidi me conformar com a solidão -.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Fontes de Tristeza


Triste não é quando alguém deixa de ser nossa fonte de inspiração. Triste mesmo é quando nossa fonte de inspiração nos deixa.

sábado, 7 de abril de 2012

Bem Querer Bem


Queira bem ao seu bem-querer,
Mesmo que seu bem-querer
Não lhe queira bem:
Porque querer bem ao seu bem-querer
Está bem além do que querer
Que seu bem-querer também lhe queira bem.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Infortúnio


Se sabes que a cada dia que passa
O julgamento está mais próximo,
Cuidado, então, ó filho pródigo!
Pecado vem, tentação te encalça.

Mas o amor se aproxima e te abraça.
Medroso, irracional e ilógico,
Te escondes no deserto inóspito
Temendo o sentimento que te caça.

Assim, no momento de tua morte,
Deus, justo, enviou-te ao Inferno
Pois fugiste da vida mundana.

E que infortúnio! Falta de sorte!
Ficaste só no terrível inverno:
Queimarás na eternidade profana.

terça-feira, 27 de março de 2012

Temp(er)o


 Todos temem o tempo;
O tempo é temido por todos.
Por que todos temem o tempo?
O tempo é um tirano tolo!

Tolice é temer o tempo;
O tempo tempera a todos.
Nem todos temperam o tempo,
Tirano dos temerosos tolos!

O tempo tirano é tolo:
Quem o teme é também.
Tolo é o temeroso
Que não tempera o tempo que tem.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Dar à Luz


Fui parida pela língua
E nasci com o dom das palavras...
Se um dia eu morrer à míngua,
Rejeitar-me-ão as necrófagas larvas.

Pois poeta de verdade não morre,
Posto que jamais é esquecido:
O verso ganha vida própria e corre,
De boca em boca é dito.

Ser gerada assim é uma grande sorte
Que me garante eterna vida:
O corpo pode até se entregar à morte,
Mas a arte será sempre reconhecida.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Barreiras

 
Quando existe a distância
Entre dois apaixonados
- Seres que desde a infância
A ficarem juntos foram destinados -

A quilometragem não os afasta,
Pois se interligam os corações:
O amor vence essa barreira carrasca
E é capaz de atravessar nações.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Metas


Qual a meta
De ser poeta?
A meta
De todo poeta
É livrar-se da fera
Que guarda dentro de si.


Qual o prazer
De se ler?
O ardor
De todo leitor
É descobrir que sua fera
Alguém mais é capaz de sentir.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Segredo de Confissão


 Fui ao confessionário com o padre conversar,
Consciência pesada por causa de um pecado:
Ia à missa sem nenhum intuito de rezar,
De olho na Rosinha, filha do delegado.

Que Deus me perdoe e tenha misericórdia,
Esse comichão é o mais forte sentimento...
Minha intenção nunca foi a de gerar discórdia
E só oro para que o sermão seja bem lento.

Para que assim eu fique admirando
A beleza de Rosinha, graciosa como o quê.
Comungo, na fila passo por ela olhando,
Mãos macias envoltas num terço azul bebê.

Senhor padre, não peço por clemência.
Mesmo tendo mentalidade mundana,
Pode me dar qualquer penitência,
Mas continuarei vindo à igreja toda semana.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Das Coisas que Farei ou Deixarei de Fazer (II)‏


Quando eu te encontrar, meu bem,
Contornarei o espaço
E na circunferência de um abraço
Permitir-me-ei ir além.
Porque encontros assim
Só ocorrem uma vez na vida,
E que a tua ferida
Seja cicatrizada por mim.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Imparcial


 Raptou as areias das praias,
Aprisionou-as em frascos.
Não separa classes e laias,
Não distingue fortes e fracos.

Tem a forma que quiser,
Mas não é divindade.
Foge da sina de morrer,
Sequer nota os sinais da idade.

Sempre ilude os amantes,
Adiantando a partida.
Quando se quer ir embora antes,
Os ponteiros retardam a saída.

Governa ditador e soberano,
Numa ampulheta monárquica.
Envelhecemos ano a ano,
E ele prossegue sua vida intacta.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Caverna



Para cortar lenha, subi a serra;
Desviei das pedras e montanhas de terra...
Num perigoso abismo além das curvas,
Após horas de viagem, visão turva.

Descendo mais a cordilheira que resta,
A superfície rochosa deu lugar à floresta.
Numa planície entrecortada de arbustos,
Substituindo os montes que formam teu busto.

Logo encontrei uma depressão profunda
Tal qual uma caverna úmida...
Anoitecia até que adentrei o local quente
E lá passei a madrugada latente.

Quando meu passeio terminou, enfim,
Eu ingênua pensei que havia chegado ao fim
E que eu poderia voltar para minha casa:
Quando vi que ainda estava acesa a brasa.