Em um cárcere aprisionada, Fruto de uma filarmônica fantasia Na harmonia orquestrada O som agudo de uma ópera vazia. Stradivarius desafinado Com longas cordas desentoadas, Lânguido olhar deslocado Ao longo da paisagem apagada... Tristeza desmotivada, Através dos tempos esquecida, Mas ao fim de tudo ressucitada Percebendo-se a vida; Assim fico entorpecida Dentro do ventre, pecado capital, Cicatrizando minha ferida A aguardar uma aparição triunfal.
Doce olhar prateado, Pela lua e estrelas iluminado... Voz ecoando no frio deserto, Mãos abanando em um desespero certo. Lânguidas pálpebras a se cerrar. Jamais veremos novamente esse olhar... Lágrimas e mentiras roucas, Que cada vez mais a hipocrisia rouba. Brilhantes, longos e negros, Assim eram teus longos cabelos... Porém tua doença não cura, E então se putrefou tua carne pura. Mas por ti eu chorei, E em todas as madrugadas velei. Por ti, rosas eu ofereci, E finalmente, junto de ti eu parti...
Pobre capela vazia e abandonada,
Sacrifício ecoando na neve. Fé descrita na mente insana Da inocência indolente. Indulgência angelical Das virgens da natureza... Triste fim dos mortais, Ira nas pirâmides da avareza. O ébrio e o sóbrio na lucidez, Feridas e cicatrizes sangrando, Açoites do presbítero Abençoando a dama de vestido. O aviso da união maldita De laços que jamais se romperão. O sofrimento de quem ama A infeliz que se casa nessa manhã.
Minha memória dissipada Já não sabe mais quem sou, Em que avenida do subterrâneo Minha alma desencontrada Não se achou. O grande sol central Concentrado através dos meus olhos, Dentro de minha essência, Parou de brilhar, ilumina mal, Enquanto sua luz explode meus poros. Nunca fui nem nunca serei A pessoa de índole louvável Que todos esperam encontrar. Quantas lágrimas chorei Por afundar num sangue palpável?! Meu desejo de dizer adeus novamente E afundar na chamada pelo nome Do estranho daquela noite esquecida Será um carma eternamente Dentro das minhas dúvidas arrebatadoras. Não queria chorar, derramar lágrimas, A história de meus pesadelos não vou contar, Quero me abrigar em meu refúgio, Amedrontada e pálida Por você não me amar...
Por favor, não te espantes ao ver meu espectro. Olha-te no espelho e aprecie ele se quebrar, Se partir em mil pedaços E te fazer sangrar. Tu és apenas mais uma na multidão. Os olhos de quem está ocupado Não percebem teu desepero. Saiba que sempre estarás sozinha. Teu pesadelo é teu retrato. Por que clamas por estética? Faça do obscuro teu escudo, Explore as trevas da vida. Te vês no espelho e percebes teu carma: Ele reflete teu rosto pálido, Teus longos cabelos negros, tristes olhos escuros E tuas vestes do hospício. Mas não reflete tua alma destruída pela solidão, E para te acalmares, riscas palavras perdidas Na imensidão do papel, que tudo aceita. Quem és tu, criatura molhada pela chuva noturna? Que olha para o céu e a água que cai, Pedindo socorro e proteção que te negam? Com tais perguntas, teus lábios formam um sorriso maquiavélico. -Por acaso não estás te reconhecendo?!