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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Válvula de não-escape


quase oito:
café da manhã com biscoito
alguma tragédia nacional
antes de ir trabalhar
Brumadinho
passo a ferro a camisa de linho
já evito o jornal
mas a rede social
não deixa eu me enganar

chego no trampo
o colega me dá outra notícia ruim
enrolo o meio de campo
e saio pela tangente
dando voltas no jardim

tudo contamina
a política, o próprio café
os agrotóxicos
[os amigostóxicos
os narcóticos
ultimamente, até a fé

fim de expediente
COpelo cano
apressados me fecham no trânsito
buzinam e xingam
entretanto meu carro é 1.0
pergunto-me se Homero
escreveria hoje um épico urbano

volto para casa
não ligo a televisão
todavia, fugir da desgraça
não a impede de acontecer
lancho o dormido pão
percebo que estou vivendo uma trapaça
em minha bolha de apatia
não há para onde correr
amanhã será outro dia
outro dia para não ser.

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