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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Gleba


em minha casa
- que não é um lar -
deslegitimam o meu amor;
menosprezam o que sou;
dizem que não faço parte
de um casal, e sim de um par.
na minha pátria
sou pária.

em minha casa,
se no quintal grito "socorro",
o telefone sem fio rola solto:
na sala de estar,
a notícia já sobre algum desaforo
que eu falei para atacar.
na minha pátria
sou pária.

em minha casa,
ganho menos do que todos.
nessa Novíssima República
da desinformação,
a ignorância é agora a constituição.
o síndico do condomínio
foi escolhido para causar desunião.
na minha pátria
sou pária.

em minha casa
já não tenho morada.
saí para o parque
a fim de espairecer;
lá encontrei mais gente como eu.
gente excluída,
gente sem vez.
na nossa pátria
somos párias.

fugir de casa?
não.
transformá-la em lar novamente.
de mãos dadas
com toda aquela gente
deslocada, sozinha, rechaçada.
senti-me retomar as rédeas
para mudar o curso das tragédias:
na minha pátria
serei revolucionária.

isso nunca vai mudar,
passe o tempo que for
nem que eu precise lutar
contra quem me expulsou:
é aqui meu lugar,
não tenho que pedir.
ficar não é nenhum favor.
sou dona e proprietária
de minha pátria!

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