segunda-feira, 29 de janeiro de 2018
Sobrevivência
morro em inúmeras ocasiões
morro duas ou três vezes ao ano
morro ao contabilizar os danos
[e todas as decepções]
morro em cada encruzilhada ética
morro ao matar meus ideais
morro oca em politicagens letais
[que me transformaram em cética]
morro em vida por perder a essência
morro em cólera insaciável
morro de mão atada e execrável
[a sós com minha consciência]
morro em eleições e por votos
morro ciente de minha hipocrisia
morro para manter a hegemonia
[e sorrir à força em fotos]
morro por alguns reais a mais no salário
morro para engordar o contracheque
morro porque sou capacho e carpete
[de um regime ditatorial e mercenário]
morro pelo excesso e pela falta
morro pelo silêncio e pela fala
morro pela crença e pela certeza
[de não suportar minha própria sujeira]
morro porque morrer é inevitável
morro fadada a esse destino
morro porque meu espírito assassino
poupou apenas o que é censurável
morro quando tento uma sobrevida
morro porque isso me obriga a cair no abismo
morro em prol de um favoritismo
[existo já como pseudo cadáver, fria e vazia].
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Um comentário:
Que incrível esse poema, a forma como cada linha do verso é construída e forma uma mensagem que traz em mente vários pensamentos e interpretações. Todo dia milhares de coisas apunhalam quem somos e nos matam por dentro, como se a vida fosse de uma perfeição inalcançável...morremos aos ver o mundo e nós mesmos fadados a um destino.
"morro em vida por perder a essência
morro em cólera insaciável
morro de mão atada e execrável
[a sós com minha consciência]"
Um dos versos que mais me tocou, faz uma conclusão sobre quem se tornou. Parabéns pelo poema!
Reativei meu blog, agora posso ler os blog que sigo...Voltarei aqui mais vezes.
Lhe convido, se quiser visitá-lo. Abraços e tenha um bom dia!
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