Ganhei um bichinho para me distrair e acompanhar.
Cuido dele com carinho e lamento
Que ele esteja engordando tanto sem eu sequer me esforçar.
Todo dia, no café da manhã,
Ele come pitadas de não-ditos.
No almoço de amanhã,
Servirei um prato de entrelinhas e erros implícitos.
Na janta, dou-lhe migalhas
Das coisas que poderia ter feito
Em doses pequenas e homeopáticas
E, depois desse ritual, deito.
Meu animalzinho está virando um monstro
Muito domesticado e dócil.
E tudo que eu demonstro
É um processo gradual de transformação em fóssil.
Em busca de justificativa,
À procura de motivos para me sentir mal,
Parei e vi que sou cativa
De algo absurdamente anormal:
Tanto tempo sem ter porquê,
Catei razões para continuar meu martírio,
Ao pensar que perder você
Fosse um pagamento justo e doído.
Hoje vejo que pessoas vêm e vão
Independentemente de nossa boa vontade.
Ninguém manda no coração:
A paixão acaba e alguém (se) parte.
Meu filhote já está bem menor agora.
Nem se consegue ver com uma lupa.
Fiz tudo que estava a meu alcance e até fora.
Lavo minhas mãos. Ah! O nome dele é Culpa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário