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segunda-feira, 15 de abril de 2019

Três Tempos



Segunda-feira, rumo à UNIFAP, pista do meio, 40-50 km/h, passa o Macapá Shopping, semáforo da Leopoldo Machado com a Feliciano Coelho. Freio. Colada no ônibus da Sião Thur-transportando-os-filhos-de-Deus-tá-estressado-vai-orar vidro abaixado folder do Amapá da Sorte distribuído por fantasias felpudas e calorentas malabares com facas moeda de um real gracias, señorita, buenos días 

Segunda-feira, retorno da UNIFAP, pista da direita, 40-50 km/h, em frente ao Hipercenter Santa Lúcia, semáforo da Jovino Dinoá com a Acelino de Leão. Freio. Ajude a pagar minha faculdade comprando uma trufa pendurado fazendo acrobacias no tecido aéreo um Homem-Aranha circense prefere árvores em vez de arranha-céus moeda de cinquenta centavos gracias, señorita, buenos días 


Final de semana, sem destino, rolê pela cidade, pista da esquerda, 50-60 km/h, na diagonal a praça da Bandeira, saudades do Liberdade ao Rock, quem sabe hoje praça Floriano Peixoto, ou a Veiga Cabral, talvez um filme no Cine Imperator, semáforo da Eliezer Levy com a Avenida FAB. Freio. Contribua para que possamos ir para um retiro espiritual qualquer valor serve Jesus te ama a moça sobe pallets e caixotes de feira apodrecidos fazem papel de escada no alto malabares dessa vez com tochas acesas o fogo moeda de vinte e cinco centavos gracias, señorita, buenos días engraçado que nesses anos todos nunca ouvi nenhum artista de rua gringo me agradecendo thank you so much have a nice day

segunda-feira, 18 de março de 2019

Bússola

éramos felizes:
encontramo-nos por acaso.
porém, de uns tempos pra cá
começou um descompasso...
antes caminhávamos juntas,
combinando bem os passos.
agora tropeçamos:
meu pé direito, em direção ao futuro,
se atrapalha com teu pé esquerdo
emperrado
no passado.
e no desritmado compasso
estancamos no marasmo
dos desentendimentos estúpidos
no meio da Avenida FAB.
eu quase caí num bueiro,
tu desviaste de um buraco.
nem sei mais pra onde íamos,
tamanho o embaraço.
de tanto discutir em vão,
a fim de não perder o norte
[era para a praça da Bandeira,
Parque do Forte,
ou à orla da cidade?]
soltei de vez tua mão
e segui rumo à liberdade.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Válvula de não-escape


quase oito:
café da manhã com biscoito
alguma tragédia nacional
antes de ir trabalhar
Brumadinho
passo a ferro a camisa de linho
já evito o jornal
mas a rede social
não deixa eu me enganar

chego no trampo
o colega me dá outra notícia ruim
enrolo o meio de campo
e saio pela tangente
dando voltas no jardim

tudo contamina
a política, o próprio café
os agrotóxicos
[os amigostóxicos
os narcóticos
ultimamente, até a fé

fim de expediente
COpelo cano
apressados me fecham no trânsito
buzinam e xingam
entretanto meu carro é 1.0
pergunto-me se Homero
escreveria hoje um épico urbano

volto para casa
não ligo a televisão
todavia, fugir da desgraça
não a impede de acontecer
lancho o dormido pão
percebo que estou vivendo uma trapaça
em minha bolha de apatia
não há para onde correr
amanhã será outro dia
outro dia para não ser.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Gleba


em minha casa
- que não é um lar -
deslegitimam o meu amor;
menosprezam o que sou;
dizem que não faço parte
de um casal, e sim de um par.
na minha pátria
sou pária.

em minha casa,
se no quintal grito "socorro",
o telefone sem fio rola solto:
na sala de estar,
a notícia já sobre algum desaforo
que eu falei para atacar.
na minha pátria
sou pária.

em minha casa,
ganho menos do que todos.
nessa Novíssima República
da desinformação,
a ignorância é agora a constituição.
o síndico do condomínio
foi escolhido para causar desunião.
na minha pátria
sou pária.

em minha casa
já não tenho morada.
saí para o parque
a fim de espairecer;
lá encontrei mais gente como eu.
gente excluída,
gente sem vez.
na nossa pátria
somos párias.

fugir de casa?
não.
transformá-la em lar novamente.
de mãos dadas
com toda aquela gente
deslocada, sozinha, rechaçada.
senti-me retomar as rédeas
para mudar o curso das tragédias:
na minha pátria
serei revolucionária.

isso nunca vai mudar,
passe o tempo que for
nem que eu precise lutar
contra quem me expulsou:
é aqui meu lugar,
não tenho que pedir.
ficar não é nenhum favor.
sou dona e proprietária
de minha pátria!

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Pleito

bandeiras coloridas
partidos
coletivos
movimentos
ativismo
horário eleitoral nada gratuito

campanha nas campanhas
discursos
além do curso
das horas

jingles mudos 
para candidatos 
que não têm nada a dizer

a militância das palavras
é solitária
não há neutralidade
na ideologia versificada

mudar o mundo
requer urnas
[funerárias

voto no pseudo silêncio
da engajada
lírica luta
fora da caixa
distante da turba
autônoma... singular 
eremitas, uni-vos!