sábado, 15 de dezembro de 2012
Travessia
I
O ruim de viver em cidade pequena
É o risco de te encontrar em qualquer esquina,
Ou de algum amigo em comum pôr lenha
Perguntando se tenho te visto por sina.
Dessa forma eu ando e admiro rostos
E em cada face vejo um traço teu.
Permaneço então, eternamente a postos,
Com a lembrança acesa do teu adeus.
Transito por uma e outra loja
E te desenho em cada manequim
Que no corpo plástico uma roupa aloja
Na vitrine fria refletida em mim.
Assim, fujo da obra do acaso
Atravessando a faixa de pedestre:
Em cada listra branca penso em nosso caso
E questiono se foi tudo um teste.
II
Já na calçada, recupero o orgulho
E resolvo me valorizar acima de tudo.
Mas afinal, sentimento ruim é entulho
Que apenas deixa mais feio o mundo?
O semáforo fecha e eu na contramão
Peso todos os perdões que concedi
Com a intensidade de tua ingratidão
E percebo que dei bem mais que recebi.
Imagino às vezes que se te enxergo
É porque simultaneamente também recordas,
Onde quer que esteja, nosso amor cego,
Que se enforcou com a própria corda.
Se em cada rua o perigo ainda existe,
Da solução fico agora ciente:
Ou essa travessia dolorida persiste,
Ou então me mudo de continente.
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5 comentários:
Lindíssimo!
GK
pé ante pé, passo a passo, equilibro mal e mal em paisagens assim
beijo
Sensacional, Lara *-*
Bom dia, Lara. Conhecendo hoje o teu blog e adorando as poesias que eu li.
Poesia forte falando de fim de amor, que está em alta hoje em dia.
Não sei se está em alta pela nossa intolerância com o defeito do outro ou se o mesmo é muito difícil de levarmos adiante numa relação que sangra.
Esta estava em hemorragia e acabou-se colocando fim ao que certamente era belo, não suportando as transições de humor piores do que as fases da Lua.
Amei seu blog, amei a poesia "RESTOS".
Voltarei com calma para comentar em outras.
Já te seguindo com prazer.
Tenha um 2013 de paz e feliz e um natal de 365 dias do ano.
Beijos na alma.
Lindo...
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