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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Imparcial


 Raptou as areias das praias,
Aprisionou-as em frascos.
Não separa classes e laias,
Não distingue fortes e fracos.

Tem a forma que quiser,
Mas não é divindade.
Foge da sina de morrer,
Sequer nota os sinais da idade.

Sempre ilude os amantes,
Adiantando a partida.
Quando se quer ir embora antes,
Os ponteiros retardam a saída.

Governa ditador e soberano,
Numa ampulheta monárquica.
Envelhecemos ano a ano,
E ele prossegue sua vida intacta.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Caverna



Para cortar lenha, subi a serra;
Desviei das pedras e montanhas de terra...
Num perigoso abismo além das curvas,
Após horas de viagem, visão turva.

Descendo mais a cordilheira que resta,
A superfície rochosa deu lugar à floresta.
Numa planície entrecortada de arbustos,
Substituindo os montes que formam teu busto.

Logo encontrei uma depressão profunda
Tal qual uma caverna úmida...
Anoitecia até que adentrei o local quente
E lá passei a madrugada latente.

Quando meu passeio terminou, enfim,
Eu ingênua pensei que havia chegado ao fim
E que eu poderia voltar para minha casa:
Quando vi que ainda estava acesa a brasa.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Soneto Natalino

Quando o Natal chega sorrateiro,
Todos se sentem tomados de perdão.
Mas ele deveria habitar o coração
Dos homens durante o ano inteiro.
Essa tal misericóridia é, então,
Só um sentimento passageiro?
Seria, portanto, verdadeiro
Esse rompante veloz como paixão?

Fogos, champagne, chester, risadas:
Uma noite completa de hipocrisias.
Depois que cada um volta a suas casas,

Fartos de um banquete de ironias,
O amor ao próximo é jogado às traças
Por mais trezentos e sessenta e quatro dias.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Maestria Cruel


Se minha mão encostar na tua nuca,
Apenas recebe-a em teu cabelo.
Mal sabes meu desejo de te deixar caduca,
Te agarrar e ter em meus braços nua em pêlo.
E não peça para ir devagar, não tenho dó.
Tampouco ré, mi, fá, sol, lá ou si,
Puxarei teus fios e os encherei de nó
Na maestria cruel de caber em ti.
A noite para nós não terá fim
Mas não será como se não houvesse amanhã
Já que quero sempre repetir, assim,
A mesma brincadeira toda a manhã.

sábado, 29 de outubro de 2011

Das Coisas que Farei ou Deixarei de Fazer (I)


Não gosto da ideia
De poder um dia
Dormir ao teu lado.
Apetece-me mais ainda
O termo amanhecer.
Porque contigo, meu bem,
Tenha certeza:
Farei tudo,
Menos adormecer.