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sábado, 16 de março de 2013

Fênix



Acho tão injusto
Esse teu trato...
Só porque sabes bem
Que já me tens na tua mão.

Acho tão incômoda
Essa tua falta de tato...
Só por saber também
Que já tens meu coração.

Então te peço, por favor:
Não confia na garantia
De que basta amor
Para compensar a apatia.

Então te peço, por gentileza:
Não te conforma com o sentimento
Que, correspondido com firmeza,
Não se mantém isolado ao vento.

Aprende que reciprocidade
Não é suficiente se estiver isolada.
Pois é fato que a felicidade
Não é apenas amar e ser amada.

Entende que para dar certo
Não depende somente de um.
Pois a relação é de dois que estão perto,
Não distantes de um lugar comum.

Recordo bem como foi a princípio
E é o que guardo dentro de mim:
A lembrança antes do precipício
Que nos encaminhou ao fim.

Preservo o nascimento de tudo
E é o que prefiro ter em mente:
A memória saudosa ao fundo
Que antecede qualquer poente.

Ainda há tempo para mudança:
Resgata o que existe em nós,
Porque sofrer demais cansa
E tem mais contras do que prós.

Ainda há tempo para retorno:
Reinicia o que outrora começou!
Porque meu corpo está morno
E lembra por quem se apaixonou.

sábado, 9 de março de 2013

NA(MORADA)


I

Ela apareceu no meu quintal
Simplesmente, de vestido florido.
E por mais que não parecesse real
Trazia a primavera inteira em tecido.

Lembro da estampa, mas nem ligo
O que importa é o magnetismo de nossos corações.
Levou minha densa neblina consigo:
Despida ela era, ao mesmo tempo, todas as estações.

Ela se apresentou, graciosa,
Cheirando a um leve aroma de lavanda
E logo se espalhou, ociosa...
Em breve, tomaria conta da minha varanda.

Entrou e deixou flores pela casa.
Sentou no sofá, debruçando-se em meu colo.
Pergunto-me se ela ainda me atrasa
Ou se chego sempre tarde por minha culpa solo.

II

Ela tirou as teias da biblioteca,
Me fez comprar uma cadeira para o escritório.
Dia-a-dia regou o que não mais resseca
E renovou o visual do dormitório.

Quando enfim se infiltrou na cozinha,
Preparou o melhor omelete.
Nas noites, nunca podia me sentir sozinha...
Inclusive, adotamos um pet.

Hoje me dou conta que o lugar é o de menos,
Desde que ela seja minha namorada.
O que me vale é o amor ameno, regado a beijos serenos
E esta mansão não é nada, pois ela é minha morada.

Pus o poema no passado e soou como despedida,
Porque um minuto sem ela é uma eternidade de solidão.
Ela partiu há pouco e eu disse: - Não se demore, querida!
Aguardo seu retorno... Ela foi só comprar pão.

domingo, 3 de março de 2013

Vigília



Em cada pequena lágrima,
Há uma discreta lástima
Pairando sobre a pseudo-paz
De uma alegria fugaz
Que se esvai em questão de segundo.
Para onde caminha o mundo?
Como se consegue ser feliz
Ao ver que só por um triz
Continua faminto o homem
Sem saber de quê tem fome?
Ando assim sem norte,
Dia-a-dia escapando da morte
À espera de uma razão
Para fugir na contramão
Da rotina que sempre me guia.
Permaneço então em vigília
Reiterando a vida amena.
Sorrio com a face serena
Na certeza de que é impossível
Contentar-se vendo o inadmissível.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Des-coberta


Ao mesmo tempo que carrego o desejo oprimido
De dormir ao teu lado para sempre,
Cantar lullabies ao pé do ouvido
E amanhecer com felicidade latente,

Levo também, em segredo
O sonho de não adormecer:
De perder contigo qualquer medo
Que possa por acaso vir a nascer.

Divido assim a ideia
De penetrar no que não descobri
Para que os lençóis sejam a plateia
Do espetáculo que ainda está por vir.

Que a noite sempre nos resguarde
E a madrugada nos acolha para si.
Pois quero provar, sem alarde,
O gosto singelo de estar dentro de ti.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Porta-Bandeira da Dor




A Banda passa bem cedo
E nos perdemos no trio elétrico...
Já não lembramos dos sambas de enredo
Cantados na véspera do desfile estético.
Durante o feriado esquecemos os medos
E aderimos ao festejo eclético,
Enfeitando o corpo com adereços,
Contagiados pelo clima magnético.

As cores e a brincadeira,
A beleza de cada fantasia,
Só me fazem ser porta-bandeira
Das dores que voltarão um dia.
Por ora prosseguem as 'feiras'
Comemoradas com muita folia,
Mas desde já prevejo uma inteira
Destruição na avenida da vida.

Pois de que vale o Carnaval,
O
pierrot e a colombina
Se é tudo fugaz e banal?
O confete e a serpentina
Com repetida alegria anual
Se esvaem entre algumas marchinhas.
E como morte fatal
Findam na quarta-feira de cinzas...