A Banda passa bem cedo
E nos perdemos no trio elétrico...
Já não lembramos dos sambas de enredo
Cantados na véspera do desfile estético.
Durante o feriado esquecemos os medos
E aderimos ao festejo eclético,
Enfeitando o corpo com adereços,
Contagiados pelo clima magnético.
As cores e a brincadeira,
A beleza de cada fantasia,
Só me fazem ser porta-bandeira
Das dores que voltarão um dia.
Por ora prosseguem as 'feiras'
Comemoradas com muita folia,
Mas desde já prevejo uma inteira
Destruição na avenida da vida.
Pois de que vale o Carnaval,
O pierrot e a colombina
Se é tudo fugaz e banal?
O confete e a serpentina
Com repetida alegria anual
Se esvaem entre algumas marchinhas.
E como morte fatal
Findam na quarta-feira de cinzas...
Amar sem amarras.
Porque amor é sentimento que rasga
Os limites, os medos e a razão.
Então abre o teu coração,
Permite que a felicidade invada o espaço
Para que, assim, eu caiba no teu abraço.
Deixa arfar e inflar o peito,
Que o que tiver de ser feito...
Será.
Todo romântico é um mártir.
Morre a cada dia uma parte
Do símbolo que expressa a própria arte.
Toda amada é intocável.
Mantém a cada dia beleza irretocável
Do pedestal que se embala inalcançável.
Todo par é fadado à desgraça.
Mistifica a cada dia a ameaça
Do final feliz que esconde apenas uma farsa.
O dom do silêncio
É conter segredos
Que, por diversos medos,
E em prol do bom senso
Resolvemos calar.
O tom do silêncio
É sempre grave,
Pois carrega o entrave
Da dúvida sobre o consenso
De se declarar.
O som do silêncio
É o ruído do nada,
Que preserva a amada
Do barulho denso
Que é tentar ser um par.
O bom do silêncio
É guardar o futuro
Incerto e inseguro,
Que pode ser só fogo intenso.
Cabe a nós optar.
I
Quisera eu te pintar com cores vivas
Que o tempo lentamente desbotou.
Quisera eu poder assim, dar vivas,
Ao conseguir regenerar o que já se desgastou.
Hoje eu só canto nostalgia
E na minha melodia
Cada nota é saudade.
Hoje eu só entoo canções cinzas
E na dor que não se finda
Cada lágrima é verdade.
II
Pudera então guardar, conter o choro
Que na mágoa, bem sei, engoles arrependimentos.
Pudera até sentir falta deste corpo
Que em noites, nos meus braços, afastaste teus tormentos!
Hoje tu sussurras de remorso
E agora eu endosso
Em cada silêncio de momento...
Hoje tu suspiras na lembrança
E ainda nutre a esperança
Em cada frase de lamento.
III
Fizera eu inúmeros e incontáveis planos,
Em sonhos te incluí para ter algum motivo...
Fizera eu de ti, mortalha de desenganos
Em vacilos talvez fatais e tantos erros repetidos.
Hoje eu só carrego na memória
E recordo nossa história:
Cada vão e vil segundo...
Hoje eu só lamento o nosso fim
E torço para que, enfim,
Cada um siga o próprio rumo.