Menu

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Restos


I

Ainda há um pouco de ti pela casa:
A escova de dentes perdida,
O chinelo roído na entrada
E a lembrança da despedida.

Ainda há um pouco de ti em cada beira:
O fio de cabelo no banheiro;
O termômetro na geladeira;
E no quarto, teu cheiro.

Ainda há um pouco de nós no travesseiro:
A gota circular no colchão,
O brinco perdido no meio
E na cama, solidão.

Ainda há um pouco de ti nas cadelas:
A espera pelo habitual cafuné,
O prato de ração delas
E as orelhas em pé.

Ainda há um pouco de ti no jardim:
As flores que um dia regaste...
A rosa, orquídea ou jasmim
E o balde sem haste.

Ainda há um pouco de ti na cinza das horas:
O segundo de carência,
O minuto de histórias,
E essa abstinência.

II

Ainda há um pouco de nós em nós:
O choro contido no ônibus,
A confissão passada a sós
E os silêncios tristonhos.

Ainda há um pouco de nós no próximo:
O ombro sincero de algum amigo,
O falso que está julgando ótimo
E o pesar que ficou comigo.

Ainda há um pouco de mim em ti?
A esperança de um retorno?
O retrato meu que sorri?
E algum penar morno?

Ainda há um pouco de ti em mim:
A aliança guardada na bolsa;
A mensagem antes do fim
E essa saudade, moça.

Ainda há um pouco de mim em mim:
O pouco que já não é mais nada.
O pouco que hoje jaz, enfim,
E a tua ausência, amada.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Maldade



Saudade
é maldade
causada pela distância,
para aumentar a ânsia
de estar mais perto
de quem nos tirou do deserto.

sábado, 27 de outubro de 2012

Intriga de Roda


A Rosa brigou com o Cravo
Debaixo de um barzinho:
O Cravo soltou os caralhos
E a Rosa deu para o Azevinho.

O Cravo, só na birita
Nem cogitava parar.
A Rosa cansou dessa vida
E mandou o Cravo pastar.

Depois do dito divórcio
A Rosa não mais despedaçada
Suga outro pólen sem remorso:
Encontrou a Samambaia.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Moeda de Troca


A fé que acalma um coração aflito
Amansa o desespero e ameniza o conflito
É a mesma fé que na alegria concebida
Não agradece a graça concedida?

Jamais! A fé nada tem a ver com essa culpa.
A falha é do falso fiel que, sem desculpa,
Sabe pedir e espraguejar à vontade
Caso não consiga o que almeja da divindade.

Crença não deve ser objeto de barganha;
Deixar promessa pendente é baixeza tamanha!
Nessa vida, tudo pode ser comprado,
E entre corruptos também ser negociado...

Entretanto, um acordo humano
Não é válido no fim, pois é algo mundano:
Além do plano terreno, há muito mais!

Quando um corpo sucumbe e na cova jaz,

Não há como, depois, tentar moeda de troca.

Se a alma é pura, mediana, ou porca,
Assim será julgada sem tabela de preço:
O que é feito aqui hoje, define um futuro endereço.

domingo, 7 de outubro de 2012

Agridoce


Uma era açucarada
E a outra, amarga:
Levavam uma vida azeda,
E só havia incerteza
Até que se encontraram:
Sabores que se completavam.
O resultado poderia ser qual fosse!
Mas assim começara um amor agridoce.