Menu

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Segredo de Confissão


 Fui ao confessionário com o padre conversar,
Consciência pesada por causa de um pecado:
Ia à missa sem nenhum intuito de rezar,
De olho na Rosinha, filha do delegado.

Que Deus me perdoe e tenha misericórdia,
Esse comichão é o mais forte sentimento...
Minha intenção nunca foi a de gerar discórdia
E só oro para que o sermão seja bem lento.

Para que assim eu fique admirando
A beleza de Rosinha, graciosa como o quê.
Comungo, na fila passo por ela olhando,
Mãos macias envoltas num terço azul bebê.

Senhor padre, não peço por clemência.
Mesmo tendo mentalidade mundana,
Pode me dar qualquer penitência,
Mas continuarei vindo à igreja toda semana.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Das Coisas que Farei ou Deixarei de Fazer (II)‏


Quando eu te encontrar, meu bem,
Contornarei o espaço
E na circunferência de um abraço
Permitir-me-ei ir além.
Porque encontros assim
Só ocorrem uma vez na vida,
E que a tua ferida
Seja cicatrizada por mim.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Imparcial


 Raptou as areias das praias,
Aprisionou-as em frascos.
Não separa classes e laias,
Não distingue fortes e fracos.

Tem a forma que quiser,
Mas não é divindade.
Foge da sina de morrer,
Sequer nota os sinais da idade.

Sempre ilude os amantes,
Adiantando a partida.
Quando se quer ir embora antes,
Os ponteiros retardam a saída.

Governa ditador e soberano,
Numa ampulheta monárquica.
Envelhecemos ano a ano,
E ele prossegue sua vida intacta.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Caverna



Para cortar lenha, subi a serra;
Desviei das pedras e montanhas de terra...
Num perigoso abismo além das curvas,
Após horas de viagem, visão turva.

Descendo mais a cordilheira que resta,
A superfície rochosa deu lugar à floresta.
Numa planície entrecortada de arbustos,
Substituindo os montes que formam teu busto.

Logo encontrei uma depressão profunda
Tal qual uma caverna úmida...
Anoitecia até que adentrei o local quente
E lá passei a madrugada latente.

Quando meu passeio terminou, enfim,
Eu ingênua pensei que havia chegado ao fim
E que eu poderia voltar para minha casa:
Quando vi que ainda estava acesa a brasa.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Soneto Natalino

Quando o Natal chega sorrateiro,
Todos se sentem tomados de perdão.
Mas ele deveria habitar o coração
Dos homens durante o ano inteiro.
Essa tal misericóridia é, então,
Só um sentimento passageiro?
Seria, portanto, verdadeiro
Esse rompante veloz como paixão?

Fogos, champagne, chester, risadas:
Uma noite completa de hipocrisias.
Depois que cada um volta a suas casas,

Fartos de um banquete de ironias,
O amor ao próximo é jogado às traças
Por mais trezentos e sessenta e quatro dias.