no mapa
do teu corpo
não trouxe naus
para descobrimentos
[nem invasões
apenas deixei as velas
a favor dos ventos
furacões
me guiaram
até onde querias
que eu chegasse:
no cais
em que minhas certezas
no mapa
do teu corpo
não trouxe naus
para descobrimentos
[nem invasões
apenas deixei as velas
a favor dos ventos
furacões
me guiaram
até onde querias
que eu chegasse:
no cais
em que minhas certezas
Gosto de casas inacabadas.
São mais bonitas do que as casas bonitas
— e financiadas —.
sem convenções de condomínio, sem normas,
há algo a ser terminado, pendente
[a memória das últimas gerações e reformas.
Entre olhares cínicos,
do vizinho, do síndico
casas de condomínio
parecem laboratórios de exames clínicos.
Jamais conhecerão o mistério dos bairros,
onde uma mansão de dois andares
convive com uma casa de madeira
e na outra rua já estão as pontes
de uma área de ressaca
caixotes de feira
academias
paradas de ônibus
farmácias.
As fachadas beges da higienização social
não compreendem a multicromática desordem das promoções da Maranata.
Tijolo e reboco dividem lugar com
Correios
caramelos
testemunhas de Jeová
praças abandonadas
nas quais a galera se junta pra legalizar.
Os bairros têm lixeiras viciadas
não têm quadra de tênis
não têm portaria e nem câmeras
mas têm as melhores padarias
e batedeiras de açaí.
Em cada esquina
Lambe
grafite
minibox
cinquenta tons de cinza
e segredos noturnos.
Uma explosão cósmica origina o espaço.
Erigir a beleza no improviso.
A vida não é planejada.
Gosto de casas inacabadas e de bairros:
construções da organicidade.