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domingo, 30 de junho de 2024

Cartografia


no mapa

do teu corpo

não trouxe naus 

para descobrimentos

[nem invasões

apenas deixei as velas

a favor dos ventos

furacões 

me guiaram

até onde querias 

que eu chegasse:

no cais

em que minhas certezas









naufragaram

Urbe

Foto: Rodrigo Indinho

Gosto de casas inacabadas. 

São mais bonitas do que as casas bonitas 

— e financiadas —.

sem convenções de condomínio, sem normas, 

há algo a ser terminado, pendente

[a memória das últimas gerações e reformas.

Entre olhares cínicos,

do vizinho, do síndico

casas de condomínio 

parecem laboratórios de exames clínicos.

Jamais conhecerão o mistério dos bairros, 

onde uma mansão de dois andares 

convive com uma casa de madeira

e na outra rua já estão as pontes 

de uma área de ressaca

caixotes de feira

academias

paradas de ônibus

farmácias.

As fachadas beges da higienização social 

não compreendem a multicromática desordem das promoções da Maranata.

Tijolo e reboco dividem lugar com

Correios

caramelos

testemunhas de Jeová

praças abandonadas

nas quais a galera se junta pra legalizar.

Os bairros têm lixeiras viciadas

não têm quadra de tênis 

não têm portaria e nem câmeras

mas têm as melhores padarias

e batedeiras de açaí.

Em cada esquina

Lambe

grafite 

minibox

cinquenta tons de cinza

e segredos noturnos.

Uma explosão cósmica origina o espaço.

Erigir a beleza no improviso.

A vida não é planejada.

Gosto de casas inacabadas e de bairros:

construções da organicidade.